O mercado de Fast Moving COnsumr Goods (FMCG) demonstrou a sua resiliência neste ano de 2020 ao crescer 7,9% em volume e 12,2% em valor, no período de janeiro a agosto de 2020, face a igual período de 2019, avançam os dados mais recentes divulgados pela Kantar. A consultora que examinou o consumo dos portugueses neste período difícil chegou à conclusão o mercado de FMCG foi um dos motores do país, crescendo a um ritmo elevado, mesmo após o confinamento.
Contudo, neste contexto de pandemia, a ida à loja tornou-se uma atividade que se procura reduzir, procurando também espaços seguros e passando o mínimo de tempo possível dentro delas. Por isso, não é de estranhar que a frequência de compra ter caído 4% até ao final de agosto, bastante impactada pelos períodos de confinamento, onde esta quebra foi ainda mais acentuada (12%).
A menor frequência de compra é, no entanto, compensada com cestas cada vez maiores, com uma maior quantidade comprada em cada ato, que mesmo nos últimos meses continua a crescer 8% em relação ao mesmo período de 2019 (junho, julho e agosto) e sobe para 11,9% analisando o total dos meses até agosto.
Na apresentação digital destes números sobre o mercado de FMCG português, Florencio Garcia, Iberia Retail & Catman Sector Director, revelou que, com a alimentação a ser a grande impulsionadora, os frescos assumiram a liderança, salientando o responsável da consultora que os frescos registaram uma subida de 17% neste período, “o que quer dizer que, 4 em cada 10 euros gastos em compras no retalho alimentar terá sido em frescos”, destacando Florêncio Garcia a performance da drogaria e limpeza.
No que diz respeito aos canais de compra, tanto os “Discounts”, como os “Tradicionais” têm demonstrado a sua importância para o agregado familiar português. Por se tratar de lojas onde o comprador se desloca regularmente, a perceção de que pode continuar a fazer as suas compras habituais e o número significativo de lojas por habitante, ajudou ao crescimento de ambos. Com isto, os Discounts ganharam 0,5 pontos de quota até agora neste ano, enquanto os Tradicionais cresceram 0,6 pontos. Em ambos os casos, o crescimento de produtos frescos tem sido fundamental.
O e-commerce alimentar, por outro lado, tem sido um fenómeno global, que também registou um crescimento exponencial em Portugal, em 2020. Um em cada três lares portugueses já comprou produtos de grande consumo online em 2020 e 45% deles repetem este canal de compras pelo menos uma vez. Com tudo isto, foi possível quebrar muitas barreiras com os consumidores e gerar o hábito, o grande desafio deste canal, num país com muitas lojas físicas por habitante. Em 2020, deu-se um desenvolvimento que seria expectável acontecer nos próximos três ou quatro anos.
Relativamente à análise das insígnias, o ano de 2020 inicia-se com quotas de mercado similares às do fim de 2019. No mês de março, contudo, verificou-se um forte crescimento do Intermarché que conseguiu manter nos restantes meses do ano e uma queda na quota Jerónimo Martins, num mercado que começou a crescer na casa dos dois dígitos.
Durante o confinamento, a Sonae seguiu o mesmo caminho e cedeu alguma quota, sem comprometer a liderança, não obstante o Lidl atingir os melhores números do ano, aproximando-se dos 12% do mercado. Nestes últimos meses do chamado “novo normal”, consolidou-se o crescimento do Lidl e do Intermarche. A Sonae recupera um pouco e é o DIA / Minipreço quem mais sofre.
No período acumulado de 2020 (de janeiro a agosto) verifica-se que as insígnias líderes, apesar de cederem alguma da sua quota de mercado, mantém as suas posições com muita solidez. Um fenómeno que tem ocorrido igual em todos os países e que responde à lógica de um mercado maior, mas ao mesmo tempo, mais distribuído entre os diferentes agentes. Por outro lado, Lidl e Intermarché conseguem consolidar o seu crescimento desde o início da pandemia e ter um bom desempenho em 2020. Algo que quase se pode afirmar também para a Auchan que, embora não ganhe quota de mercado, permanece quase estável em neste mercado maior. O Minipreço que ganhou durante as semanas de confinamento, perde terreno nas últimas semanas.
Assim, o Modelo Continente cedeu alguma quota, sem comprometer a liderança, caindo 0,9% em quota de mercado, fixando-se nos 26,8%, enquanto o segundo neste ranking (Jerónimo Martins), apresenta uma descida maior (-1,4%) para fixar-se nos 22,9% no final de agosto de 2020. O Lidl, por sua vez, atinge 11,3% de quota de mercado devido à subida de 0,6%, com o Intermarché a consolidar o crescimento nestes últimos meses do chamado “novo normal”, crescendo 1% para uma quota de mercado de 8,8%. Auchan e DIA / Minipreço mantém-se minimamente estáveis, apesar de quedas, com registos de -0,1% e -0,3%, respetivamente.
Para Florencio Garcia, “falamos de um mercado maior, num encaixe diferente e com mais concorrentes.” do que nunca”, concluindo que, “conectar com o consumidor e com suas novas necessidades será a chave para reter o máximo de gasto em cada visita às lojas, sem dúvida a métrica chave para o êxito dos retalhistas nos próximos tempos”.