A economia portuguesa cairá 8,1% em 2020, reflexo de uma queda homóloga de 9,4% no primeiro semestre e de uma recuperação na segunda metade do ano, que se traduz numa variação homóloga de -6,8%, revela o Banco de Portugal (BdP) no seu mais recente Boletim Económico de outubro de 2020.
A projeção agora apresentada revê 1,4 pp em alta a previsão de junho, reflexo de um impacto mais reduzido do confinamento na economia portuguesa e de uma reação das empresas e famílias melhor do que a antecipada. As Contas Nacionais Trimestrais revelaram uma queda da atividade no segundo trimestre (-16,3%, em termos homólogos) menos profunda do que o antecipado. Assim, segundo o BdP, “o comportamento da economia portuguesa acompanhou a evolução do PIB da área do euro que, de acordo com as projeções do Banco Central Europeu, diminuirá 8% em 2020”, ou seja, uma redução também inferior à anteriormente projetada.
A recuperação parcial do PIB português no segundo semestre resulta da manutenção de restrições à atividade em alguns setores, do clima de incerteza e dos impactos na capacidade produtiva. A heterogeneidade setorial manter-se-á na fase da recuperação, com o turismo e os serviços mais expostos a contatos pessoais a recuperarem menos.
A contração da atividade em 2020 estará associada a uma queda nas horas trabalhadas e a uma redução do emprego de 2,8%, inferior à queda de 4,5% projetada em junho. Esta evolução não é alheia à resiliência que as empresas têm demonstrado e às políticas de proteção do emprego adotadas, indicando o BdP uma taxa de desemprego a aumentar para 7,5%, uma revisão em baixa de 2,6 pp.
Se, de acordo com as estimativas da equipa liderada pelo antigo ministro das Finanças e agora Governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, o consumo público crescerá 1,2% em 2020, o consumo privado cairá 6,2%, “observando-se um forte aumento da taxa de poupança no primeiro semestre que será gradualmente revertido na segunda metade do ano”, diz o BdP.
Na dimensão externa, perspetiva-se uma queda das exportações de bens e serviços de 19,5% em 2020, enquanto as importações de bens e serviços deverão diminuir 12,4%.
A queda das exportações de turismo é a principal razão para que a balança de bens e serviços passe a deficitária, determinando a deterioração do saldo da balança corrente e de capital. Em 2020, a economia portuguesa registará necessidades líquidas de financiamento face ao exterior de 0,6% do PIB, o que acontece pela primeira vez desde a anterior crise.
Quanto aos preços, prevê-se que a inflação, medida pelo índice harmonizado de preços no consumidor, se situe em 0%.
Assim, as perspetivas de curto prazo para a economia portuguesa “continuam rodeadas de incerteza”, diz o BdP. A entidade reguladora do sistema bancário nacional refere ainda que “a recuperação na segunda metade do ano constitui uma mais rápida e marcada inversão do ciclo do que a observada nos anteriores episódios recessivos”. No entanto, adverte o BdP, “não é de excluir que o prolongamento da crise pandémica cause uma retração na recuperação da despesa e da oferta”, concluindo que “as políticas económicas nacionais e supranacionais continuarão a exercer um papel fundamental no processo de recuperação sustentável”.