As principais tendências do setor dos alimentos congelados estão alinhadas com todo o mercado alimentar: conveniência, alimentação saudável e ‘premiumização’, além da crescente exigência de sustentabilidade. Ao nível dos equipamentos de congelação, o setor continua em crescimento, tanto na distribuição – por via da concentração, como no HoReCa, pelo aumento do turismo.
Os vetores que marcam o mercado alimentar são também os que orientam o setor dos alimentos congelados, com a conveniência a sentir-se ainda mais. “As principais tendências na indústria de alimentos congelados estão bastante alinhadas com as tendências em todo o setor alimentar. A conveniência e a alimentação saudável estão no topo da procura dos consumidores. Uma outra tendência crescente e transversal, que já faz parte do ADN da Gelpeixe, está relacionada com a sustentabilidade. Esta preocupação está presente na nossa atividade desde a pesca até à embalagem”, diz Lídia Tarré, administradora executiva da empresa, à DISTRIBUIÇÃO HOJE.
Também João Vale, marketing director da Iglo afirma que “a praticidade/procura de soluções convenientes será a principal tendência, já de há vários anos, que explica boa parte do crescimento do mercado de congelados. Bom exemplo disso é o crescimento dos segmentos de peixe, tanto natural como preparado”, indicando o responsável que “com o aumento da oferta e crescente perceção de qualidade pelo consumidor, há uma transferência de outros mercados para o setor dos congelados”.
João Vale adianta que “a par disso o mercado de congelados partilha as tendências transversais a todo o mercado alimentar: procura de alimentação saudável (através de novos ingredientes, novas combinações de ingredientes, novos benefícios, etc.) e premiumização (cliente disposto a pagar mais por qualidade)”.
Patrícia Matos, diretora de marketing da Brasmar refere que “os produtos congelados têm registado um grande crescimento no mercado nos últimos anos, motivado pelo consumidor que não quer ou não tem tempo para preparar as suas refeições, mas que, ainda assim, não dispensa uma alimentação saborosa e de qualidade. Neste contexto, verificamos a procura de soluções rápidas e facilitadoras, que se adequem a um ritmo de vida acelerado”. E sublinha: “a indústria dos alimentos congelados oferece uma opção prática, mas nem por isso menos saudável”.
A responsável da Brasnar defende por isso que “a tendência para as empresas do setor reside no foco em qualidade e originalidade na apresentação dos seus produtos, assim como numa comunicação eficaz, que permita dar a conhecer todas as especificidades e potencialidades do produto a um consumidor cada vez mais informado e atento”.
Healthy, ethical & clean
As empresas tentam assim antecipar ou mesmo criar novas tendências: “A própria Panidor também faz por seguir e criar tendências, especialmente a nível nacional. Focamo-nos muito no healthy & ethical life. Nesse sentido já desenvolvemos uma linha de produtos biológicos, de produtos sem glúten e ainda uma linha de produtos de fermentação lenta e natural, os pães de massa mãe. Produtos de carácter forte, livres de aditivos e que permitem que a natureza trilhe o seu próprio percurso”, conta-nos Beatriz Bastos, responsável de marketing da Panidor.
“Reparamos que os nossos clientes já estão muito sensibilizados para estas questões e que procuram cada vez mais produtos naturais, produtos clean label. Antecipamos esta procura e neste momento temos uma enorme variedade de soluções a oferecer”, acrescenta.
O crescimento da procura por alimentos ‘saudáveis’ é também destacado pela administradora executiva da Gelpeixe: “existe um crescimento do número de pessoas preocupadas em adotar uma alimentação saudável e equilibrada, em especial no que diz respeito à introdução de alimentos naturais nas refeições do dia-a-dia. O consumidor atual está cada vez mais informado, mostrando uma preocupação crescente pelo bem-estar. A consciência de que ‘somos o que comemos’ está cada vez mais presente na mente dos consumidores e nos comportamentos de compra, sobretudo nas gerações mais novas”.
Mas João Vale, da Iglo, salienta: “Embora o que o consumidor entende como ‘saudável’ vá variando com o tempo e com o maior acesso a informação. Mais do que resumir alimentação saudável a uma opção simples por produtos menos calóricos como no passado o consumidor hoje procura transparência, confiança e bons ingredientes antes de medir calorias. Muitas das tendências saudáveis são modas (opção por um ingrediente ou outros que cresce num ano para decrescer no ano seguinte), mas podemos dizer que o que é constante é a exigência por qualidade na seleção dos ingredientes”.
Sustentabilidade ganha importância
Patrícia Matos frisa que “a Brasmar tem acompanhado as tendências de consumo relacionadas com as preocupações com a saúde, que se refletem, a título de exemplo, na nossa oferta de produtos identificados como escolha saudável.
Também Lídia Tarré diz à DISTRIBUIÇÃO HOJE que “para o futuro próximo temos previsto apostar em novas alternativas aos produtos já existentes no mercado, mantendo o enfoque na conveniência e em produtos de valor acrescentado, potenciando ainda a notoriedade dos nossos produtos mais reconhecidos como a pescada, por exemplo”.
Ervilhas e Douradinhos no top de vendas
Já o marketing director da Iglo afirma que os produtos mais vendem “continuam a ser as nossas ervilhas e Douradinhos Capitão Iglo, com os nuggets e hamburgers bem próximos”, adiantando que “a aposta da Iglo passa, antes de mais, por dinamizar os segmentos onde está presente, investindo para fazer crescer o mercado como um todo, mais do que todos os outros fabricantes juntos. Nesse sentido somos o parceiro de retalhistas procurando desenvolver uma visão de crescimento que passa por inovação e comunicação”.
João Vale salienta ainda que “mais recentemente voltámos este ano a entrar no segmento de pizzas, com a ambição clara de fazer o que conseguimos noutros segmentos: dinamizar o crescimento e aumentar a escolha para o consumidor”.
A Brasmar está presente em mais de 40 países e a diretora de marketing salienta que entre “mais de 200 tipos de produtos do mar congelados (…) o bacalhau, o polvo e o camarão são os nossos produtos-estrela”. No campo das novidades, afirma que “lançámos recentemente a nossa loja online, que promove o acesso ainda mais facilitado a todos os nossos produtos, inclusive às novas gamas, disponíveis no nosso e-commerce “ e “de ressalvar também, o nosso Polvo Quase Pronto, já previamente cozido e que só precisa de ser aquecido em menos de cinco minutos (após descongelação), e que vem ao encontro da tendência acima mencionada”.
“O incontornável Pastel de Nata”
Na Panidor, Beatriz Bastos conta que, em Portugal, “na categoria de padaria temos bastantes produtos com elevada rotação, enquanto “na pastelaria temos o incontornável Pastel de Nata”. E adianta: “A nível internacional há de facto uma procura pelos produtos genuínos, produtos com tradição e que dificilmente se encontram em produção noutra parte do mundo”.
A responsável de marketing salienta que “os maiores volumes vão para a Grande Distribuição e Supermercados, contudo e tendo uma distribuição própria a nível nacional, conseguimos distribuir diretamente no canal HoReCa em todo o território, fazemos igual distribuição em Espanha e trabalhamos em parceria noutros países de forma a distribuir o nosso produto em todos os segmentos”. A nível Internacional estamos num processo de expansão rápido. Exportamos para mais de 25 países, espalhados um pouco por todo o mundo e sentimos cada vez mais uma enorme procura pelos produtos de panificação europeus e mesmo portugueses”.
Consumidor cada vez mais informado
Sendo os alimentos congelados, em geral, produtos de grande consumo, o seu público é “totalmente transversal ao nível de idade, classe ou qualquer outra classificação” referem os responsáveis com quem falámos. “Embora possamos dizer que alguns produtos têm um consumidor preferencial específico: o consumidor urbano (jovem ou não) que procura alimentação saudável na nossa gama Veggie Bowl, tipicamente jovens famílias os nossos Douradinhos ou o típico produto ‘dos 8 aos 80’, em todas as classes sociais, como são as nossas ervilhas”, diz João Vale.
Enquanto, Lídia Tarré salienta que “cada segmento das nossas marcas tem um consumidor tipo. Se falamos por exemplo do segmento ‘chef’ identificamos tipicamente um consumidor mais jovem e mais urbano. Já o nosso comprador continua a ser maioritariamente feminino, acima dos 45 anos, e mais centralizado nas grandes cidades”. E Patrícia Matos refere igualmente que “os produtos do mar congelados são sobretudo alimentos preferidos por um grupo de consumidores de idades superiores (a partir dos 35 anos) e classe média. Contudo tencionamos alterar o paradigma e atingir idades inferiores, chegar a um público mais jovem que veja na marca um aliado para o consumo de refeições saudáveis e equilibradas”.
A diretora de marketing da Brasmar alerta ainda: “Os consumidores já têm a perceção que os produtos congelados têm qualidade e que são práticos, contudo sentimos que é necessário desmistificar, junto de alguns consumidores, a dificuldade na preparação de produtos do mar, principalmente no caso do pescado. O consumidor ainda tem algum desconhecimento sobre o método e tempo de confeção. Por essa razão, temos tido cada vez mais a preocupação de criar conteúdos nas nossas redes sociais e website que ajudem o consumidor a ter uma refeição prática e saborosa”.
Já Beatriz Bastos anuncia que “com a diferente adaptação dos nossos produtos conseguimos também fornecer opções ao público que por alguma razão tem restrições alimentares. Para além dos produtos sem glúten, temos produtos de fermentação natural prolongada (massa mãe), biológicos, integrais e vegetarianos, também já correspondemos a algumas requisições religiosas. Neste momento temos mais de 70 referências Halal, produtos que respeitam as normas islâmicas. A última novidade é o Produto Kosher, produto que respeita as normas hebraicas da comunidade Judaica em produção específica”.
Marcas de fabricante e MdD de ‘mãos dadas’
Num setor em que, muitas vezes, o preço tem algum peso, questionámos as empresas sobre a forma como trabalham a concorrência das Marcas da Distribuição (MdD) e Lídia Tarré destaca que “a Gelpeixe sempre esteve de ‘mãos dadas’ com as MdD abrindo-lhes as portas da sua casa numa relação de aprendizagem e crescimento mútuo, sempre com os melhores alimentos congelados, diferenciadores e inovadores” e considera: “procuramos encontrar um equilíbrio entre aquilo que os nossos parceiros da grande distribuição exigem e aquilo que o consumidor final procura. É importante, acima de tudo, estar presente no linear, seja através da representação em MdD ou com a marca Gelpeixe. São formas complementares que solidificam a presença da marca no mercado”.
Por seu lado, o marketing director afirma que a Iglo combate a concorrência das MdD “com inovação, qualidade e investimento em comunicação. E, naturalmente, uma estratégia promocional que permite que os nossos produtos sejam acessíveis a todos”.
Já a diretora de marketing da Brasmar salienta que “é claro que a concorrência das marcas de distribuição é uma realidade, sobretudo devido à componente promocional que torna qualquer produto – incluindo os congelados – mais apetecíveis. Ainda assim, acreditamos que há espaço para todos. E que conquistamos o nosso espaço, através do elevado nível de qualidade, diversidade e versatilidade dos produtos, que são, efetivamente, a nossa aposta”.
Refrigeração e congelação: Procura continua a aumentar
O crescimento do setor dos congelados revela-se também no contínuo crescimento da procura por equipamentos de congelação. “A tendência de bom desempenho do setor de refrigeração comercial foi uma constante ao longo dos últimos cinco anos, tendo sido previsto um crescimento no mercado global de equipamentos destinados a refrigeração comercial no mundo. Os dados destacam a Ásia como região em maior expansão, porém, a América Latina também é promissora em função do desenvolvimento económico verificado em países como o Brasil, Chile e Colômbia”, diz à DISTRIBUIÇÃO HOJE o head of marketing and communications EMEA da Fricon.
Ricardo Pereira adianta que, em Portugal, “este crescimento sente-se no retalho, principalmente por via da concentração, mas também no HoReCa, devido ao aumento do turismo”.
Rui Martins, diretor-geral da Mafirol, salienta que “o mercado da refrigeração em geral, e da refrigeração comercial em particular, atravessa um período de grande mutação, originada essencialmente por dois grandes fatores: cumprimento do regulamento da união europeia ‘F-Gas’, que entrou em vigor no início de 2015, com datas progressivas de cumprimento de metas na utilização de gases refrigerantes com elevado potencial de aquecimento global (GWP – Global Warming Potencial)” e também à “procura crescente de equipamentos energeticamente eficientes”. Além disso, “aos fatores acima mencionados junta-se a necessidade dos espaços comerciais de manterem uma constante dinâmica na promoção e divulgação dos produtos, o que resulta numa procura de novos equipamentos que respondam positivamente a estas necessidades”, acrescenta.
Já Amaro Jorge, CEO do XLUX Group que inclui a Frilux – Vadis, sublinha que “no mercado existe muita oferta, estando, por isso, num cenário de concorrência perfeita, o que se traduz em margens muito pequenas e num ambiente muito competitivo” assim: “as empresas têm de se superar e reinventar para se poderem diferenciar da comum oferta e, com isso, ganhar espaço no mercado. A desvantagem é que, obviamente, a lucratividade do setor começa a ficar comprometida”.
Retalho com grande dinâmica
Nos últimos anos, tem-se vindo a verificar uma intensificação da agressividade no retalho alimentar, quer através de consolidação de cota de mercado pelas insígnias, mas também através de estratégias comerciais mais agressivas por parte das próprias marcas”, diz Ricardo Pereira, adiantando que “a necessidade de exposição de produto ao consumidor, com valor acrescentado, tem vindo a crescer e evoluir significativamente. Maior aposta na cadeia de logística de frio, na promoção de produto no ponto de venda e o conceito de ready to go, são fatores críticos na procura deste tipo de solução”.
O head of marketing and communications EMEA da Fricon sublinha que também a nível internacional “tem vindo a ocorrer uma aposta das insígnias de supermercado ao longo dos últimos anos em termos de expansão de novas POS [Point of Sale], fundamentalmente de pequena dimensão e proximidade às populações. Genericamente, todos os grandes players avançaram com esta estratégia. Não se sente para já indícios de abrandamento, mas sabemos que ele irá ocorrer, por exemplo na Europa”.
Questionado sobre se ‘crescem mais os supermercados ou a HoReCa?’, o diretor-geral da Mafirol responde: “tratam-se de negócios distintos, com dinâmicas distintas e diferentes necessidades na tipologia de equipamentos utilizados. Enquanto na distribuição alimentar assistimos a uma tendência de concentração e de tomada de posição por parte de grandes cadeias de distribuição, a evolução do mercado de HoReCa está diretamente associada à evolução do mercado do turismo no País”.
Por seu lado, Amaro Jorge refere que “as cadeias nacionais estão com investimentos muito cautelosos, (…) no caso dos pequenos players, percebemos que estão cada vez mais a existirem mercados de bairro, lojas de proximidade, mercearias tradicionais entre outros, (…) a procura em equipamentos adequadas para essa atividade começa a aumentar, com fortes possibilidades de assim se manter”.
O CEO do XLUX Group acrescenta que a “Frilux representada pela marca Vadis, foi recentemente reestruturada e cresceu 30% face a anos anteriores, estando com ótimas previsões para os próximos dois anos”.