Em outubro de 2020, a consultora Lantern publicou um estudo sobre os efeitos da Covid-19 no setor agroalimentar. O trabalho, realizado em colaboração com o EIT Food, obteve algumas conclusões após a realização de 24 entrevistas a profissionais do setor agroalimentar, do canal Horeca e da distribuição de Portugal, Espanha, Grécia, Turquia e Itália.
David Lacasa, partner da Lantern, no decorrer de um webinar dia 23 de fevereiro, apresentou as conclusões deste trabalho no qual ficou claro que a pandemia veio introduzir fortes mudanças no setor agroalimentar. David Lacasa afirmou que “o setor agroalimentar tornou-se mais resistente” neste período, apesar das quebras no canal Horeca e do turismo.
A digitalização das empresas teve um avanço considerável no último ano, com o crescimento das compras online. No que respeita ao e-commerce, este canal cresceu nos países envolvidos no estudo 42% desde o primeiro confinamento. No caso de Portugal, em 2020, um em cada três lares em Portugal comprou produtos de grande consumo online em 2020 e 45% deles voltaram a utilizar este canal de compra no mínimo mais uma vez. Uma tendência que se estima tenha vindo para ficar.
Na senda daquilo que já era uma tendência do consumo, a procura por alimentos mais saudáveis e sustentáveis acelerou também neste período. Este cenário representa mais oportunidades de negócio para as empresas. Lia González de Oliveira, marketing director da Nobre, no decorrer do webinar, afirmou que “depois deste contexto pandémico, teremos um consumidor muito mais educado, no sentido em que procura muito mais informação e usa os meios digitais para o fazer; muito mais preocupado no sentido em saber de onde vêm as coisas que consome, de que marca são, onde é produzido, quais são os propósitos dessas marcas, se estas têm preocupações com a sustentabilidade e responsabilidade social; e sobretudo mais racional”. “O consumidor mudou e temos de ir ao encontro dele e antecipar aquilo que ele vai querer”, acrescentou ainda a responsável.
Dois cenários futuros
O estudo traçou ainda alguns cenários que definem o futuro deste setor:
– Cenário lição aprendida: o consumidor aprendeu uma lição importante sobre a relevância da nossa saúde e de como estamos globalmente conectados. Há uma preocupação maior com o impacto individual na sociedade e no planeta e isso leva a um consumo mais consciente. Aprendemos também que cozinhar em casa não é tão complicado quanto parece e que podemos fazer de forma mais saudável e retiramos desta experiência conforto.
No que respeita a oportunidades deste cenário elas passam por disponibilizar produtos mais saudáveis, os superalimentos e maior compromisso com o produto local.
– Cenário planeta humanidade: o consumidor mais consciente de impacto que tem na comunidade e no meio ambiente, uma sociedade mais humana e consciente na forma como consumimos e interagimos com nosso planeta. A sustentabilidade passa a ser um dos principais motores de consumo, enquanto marcas com um propósito claro aumentam sua participação no mercado.
Neste cenário, as oportunidades passam por termos que ser mais consistentes com o que é anunciado, pelo crescimento significativo de produtos orgânicos, produtos baseados na economia circular e impacto zero, mas também uma aposta no volume e luta contra o desperdício.
David Lacasa destacou que preparar as empresas para qualquer um destes cenários requer “um fortalecimento do relacionamento com os consumidores atuais, um reforço na proposta de valor, oferecer produtos e experiências saudáveis e convenientes”. O mesmo responsável disse ainda que “deve remover-se aquilo que não é fundamental para o negócio e tudo o gera sentimos inseguros nos stakeholders, produtos insustentáveis ou não saudáveis”.
Também presente no webinar, Gonçalo Amorim, CEO da Building Global Innovators – Representante EIT Food, referiu que a transparência vai ser fundamental porque o consumidor assim o exige e “remunera por isso”. O mesmo responsável recorda ainda que no setor agrícola a tendência vai ser produzir de forma cada vez mais sustentável, até porque a própria comunidade europeia assim o vai exigir com iniciativas como o Pacto Ecológico Europeu. “Quem tiver boas práticas vai ser compensado por isso”, reforçou.
Em conclusão, David Lacasa recomendou às empresas que “sejam ágeis e rápidas, invistam em recursos digitais, invistam na saúde e no prazer, criem novas experiências de consumo e tenham em consideração o impacto ambiental”.