A súbita ‘explosão’ do e-commerce, devido à pandemia de COVID-19, colocou a cadeia de abastecimento sob pressão. Transportadores, operadores logísticos, fornecedores e retalhistas tiveram de se unir e desenhar estratégias conjuntas para que os produtos continuassem a chegar ao consumidor final. Os desafios, as vitórias e os ensinamentos para o futuro estiveram em debate esta terça-feira (7 de julho) na última sessão online do Ciclo de Conferências da revista DISTRIBUIÇÃO HOJE.
Na primeira mesa redonda, que reuniu Pedro Azevedo, Diretor de Operações da Transportes Paulo Duarte (TPD), Ricardo Batista, Country Manager da Glovo, Cristina Mesquita, Diretora-geral da Euromadi Portugal e Hugo Teixeira, Administrador da Farmodiética/Dieta3Passos, a discussão fez-se à volta da capacidade de reação do setor da logística e dos transportes, que de um dia para o outro teve de dar resposta a um aumento exponencial das compras através dos canais digitais do retalho.
Pedro Azevedo, da Transportes Paulo Duarte, assume que não foram tempos fáceis, mas acredita que permitiram ao setor acelerar transformações que vinha a fazer a um passo mais lento.
“Reagimos com o planeamento possível junto dos nossos clientes (…) Percebemos que muitos dos nossos clientes iriam ter aumentos de pedidos e de encomendas, iríamos precisar de um aumento de frota e possivelmente iríamos recrutar pessoas, uma vez que o aumento da solicitação das encomendas em algumas das áreas do setor dos transportes foi drástico. Aquilo que nós e os nossos clientes queríamos era, essencialmente, manter o nível de serviço e a satisfação do nosso cliente final, o que nem sempre foi possível. Contratámos mais pessoas na área do e-commerce, que foi onde sentimos um aumento exponencial das encomendas. Foi um processo bastante complicado de gerir. Mas no final do dia, o principal desafio foi a incerteza. A incerteza de não sabermos como é que esta doença se iria comportar, quanto tempo estaria nas nossas vidas, quanto tempo íamos estar em confinamento…”, explicou.
Já a Glovo, aplicação que permite comprar, recolher e entregar qualquer produto na mesma cidade, poderá muito bem ter sido um dos players que saiu mais vitorioso deste período. O e-commerce exige maior esforço nas entregas de última milha, mas a app esteve preparada para dar resposta.
“Posso considerar a Glovo um vencedor porque acaba por ser uma plataforma intermediária dos nossos parceiros que querem distribuir os seus produtos e clientes e estafetas. Acabámos por conseguir dar trabalho e muito volume a estes três elementos. E aqui importa dar uma salva de palmas aos nossos estafetas, que sendo last mile são aqueles que acabam por se expor mais à pandemia, e, por outro lado, aos nossos parceiros, que em muitos casos estiveram a dar o máximo para conseguir satisfazer a procura, que era muita. Tivemos de implementar mecanismos que não sabíamos que tínhamos de implementar”, conta Ricardo Batista, Country Manager da Glovo.
Outro dos grandes vencedores desta pandemia está a ser o comércio de proximidade, que apesar de estar em crescimento nos últimos anos, conseguiu nos últimos meses reunir as preferências de grande parte dos consumidores.
Para a Euromadi Portugal, uma central de negociação com 27 associados que agrega 41 cash&carrys e que trabalha com mais de 2000 lojas de comércio de proximidade, o comércio de proximidade esteve sob pressão, mas conseguiu responder de forma eficaz.
 “O comércio de proximidade teve um papel muito importante durante a pandemia, uma vez que foi objeto de um aumento de procura por parte do consumidor que procurava rapidez de serviço e lojas perto de casa. Foi preciso uma grande adaptação por parte dos operadores para conseguir responder não só a essas oportunidades de maior consumo, como também a uma cadeia de abastecimento que, numa primeira fase, esteve sob uma grande pressão”, conta Cristina Mesquita, Diretora-geral da Euromadi Portugal.
Também a Farmodiética, empresa que detém a Dieta3Passos, teve de se adaptar e, de um dia para outro, recorrer ao online para manter as operações. O programa de emagrecimento, que tem produtos, mas também serviços, como consultas dadas com nutricionistas em clínicas parceiras, acabou por acelerar a aposta no digital, que estava já a preparar.
Hugo Teixeira, Administrador da Farmodiética/Dieta3Passos, afirma que “em meados de março, quando houve ordem para confinamento, tudo alterou. Um dos nossos problemas foi a questão das consultas, porque não sabíamos como as fazer, e a entrega dos produtos. Felizmente já tínhamos começado a desenvolver a nossa plataforma online e, de repente, acabámos por ter um bom empurrão porque os clientes que quiseram continuar a fazer as consultas já o puderam fazer online. As grandes dificuldades foram, por um lado, adaptar o sistema para poder fazer a consulta online e, por outro, as integrações digitais, que conseguimos fazer em menos de uma semana apesar da dificuldade.”
Tecnologia acelera a criação de uma ‘supply network’’
Já na segunda mesa redonda da tarde, que reuniu Luís Freitas, Business Consultant da Zetes, Diogo Lourenço, Account Executive do SAS, Flávio Guerreiro, Country Manager da LPR, e Manuel Fontes, Inside Sales Portugal da Wtransnet, discutiu-se a forma como a tecnologia permitiu aos operadores responder de forma imediata.
Neste ‘novo normal’, a cadeia de abastecimento foi posta à prova de um dia para o outro. Para Flávio Guerreiro, Country Manager da LPR, neste contexto, os dados assumem especial importância, sobretudo se forem partilhados entre players numa lógica de colaboração.
“Os dados hoje são muito importantes para as organizações. É completamente diferente para um gestor gerir o normal e gerir o imprevisto. Os dados estão em todo o lado e hoje em dia é praticamente impossível conseguir fazer tomadas de decisão sem dados. Mas isto não é novo e não é por acaso que existe a expressão ‘informação é poder’. Mas hoje em dia com a volatilidade, a incerteza, a complexidade e a ambiguidade, e até alguma exigência, do mercado, os dados são um importante aliado”, defende.
Já Diogo Lourenço, Account Executive do SAS, acredita que a pandemia veio lembrar a necessidade de criar uma cadeia de abastecimento ainda mais colaborativa. “Uma das coisas que mais tenho observado no mercado é a necessidade de transformar a supply chain numa supply network, onde todos estes elos comuniquem entre eles. Numa supply chain tradicional temos cinco pontos: desenvolvemos o produto, fazemos o sourcing das matérias-primas, produzimos e depois entramos na parte da venda e da distribuição. A grande diferença para uma supply network é que a partir de determinado momento todos estes pontos passam a estar interligados pelo ponto central do planeamento. Isto significa que quando desenvolvemos o produto já temos em conta todos os outros elos que tradicionalmente surgem de uma forma sequencial”, explica.
Uma posição defendida também por Luís Freitas, Business Consultant da Zetes, que afirma que uma maior partilha e visibilidade de dados entre os diversos atores da supply chain poderá trazer benefícios para todos.
“Ficou provado nesta altura que, juntamente com os médicos e os professores, um operador de armazém é um elemento importante nesta época. Nesta altura inquirimos os nossos clientes para perceber quais os pontos mais críticos e a segurança foi a primeira, porque perder elementos seria crítico, e a segunda era a capacidade de execução. Foram estes os desafios que tivemos de endereçar (…) O e-commerce trouxe grandes impactos [para a cadeia de abastecimento]. Ninguém estava à espera de um momento para o outro ter de aumentar a sua capacidade e há casos em que chegámos a fazer soluções novas (…) As cadeias de abastecimento colaborativas são um tema presente na indústria há alguns anos e hoje em dia permitimos a colaboração entre os vários atores da cadeia de abastecimento e permitimos a visibilidade de informação porque todas as empresas têm de facto muita informação e o que faz a diferença é como a conseguimos utilizar ou como conseguimos dar significância aos dados”, refere Luís Freitas.
Já para Manuel Fontes, Inside Sales Portugal da Wtransnet, as mudanças trazidas pela pandemia irão obrigar plataformas como a Wtransnet a gerarem informação de maior utilidade para os seus utilizadores, que terão cada vez mais necessidade de antecipar o futuro.
“A Wtransnet, através da sua bolsa de cargas e camiões, ajudou transportadores e transitários a solucionar problemas ocasionais de falta de carga e de camião em tempo real (…) Está a verificar-se que o big data será capaz de prever as tendências do mercado a curto prazo, permitindo aos operadores prever a sua capacidade. Este passo já se está a dar e a nossa empresa está atenta para fazer estas alterações nos próximos tempos. Plataformas como a Wtransnet estarão encarregues de gerar informação de utilidade para os seus utilizadores”, acredita Manuel Fontes.
Leia o artigo completo na próxima edição da revista DISTRIBUIÇÃO HOJE