O grupo Jerónimo Martins (JM) registou um crescimento de 4,6% nas vendas no primeiro semestre de 2020 face ao período homólogo de 2019, totalizando 9,3 mil milhões de euros contra os 8,9 mil milhões de há um ano.
No 2.º trimestre de 2020, contudo, as receitas do maior retalhista alimentar português caíram 1,3% face ao mesmo período de 2019, para 4.601 milhões de euros contras os 4.661 milhões de euros de período homólogo.
Apesar deste crescimento nas vendas globais do grupo, nos primeiros seis meses de 2020, a JM viu o resultado líquido recuar 36,2% face ao período homólogo do ano passado, passando de 163 milhões para 104 milhões de euros.
Já o investimento nas três geografias onde opera, neste período de tempo, chegou aos 142 milhões de euros, com 43% a serem canalizados para a Polónia.
No que diz respeito ao EBITDA, o relatório e contas do 1.º semestre de 2020 da Jerónimo Martins indica uma descida de 4,9% para os 635 milhões de euros.
Na Polónia, apesar de sinais de alguma contenção e da desaceleração da inflação alimentar no país (7,7% no 1.º trimestre vs 6,4% no 2.º trimestre), a Biedronka registou, nos primeiros seis meses de 2020, um crescimento nas vendas de 7,8% face ao mesmo período de 2019 para os 6,5 mil milhões de euros (+10,9% em moeda local) tendo conquistado quota de mercado em todos os meses do semestre.
De referir que, relativamente à operação da “joaninha”, 3,3mil milhões dos 6,5 mil milhões de euros de receitas do semestre foram realizados no 2.º trimestre, correspondendo a uma subida de 3,4% face aos mesmos três meses de 2019.
Neste período de seis meses, a Biedronka abriu 34novas localizações (29 adições líquidas) e procedeu a 71 remodelações. Embora os trabalhos de início de construção de novas lojas tenham estado suspensos no início da crise pandémica, o grupo refere que a Biedronka finalizou todos os projetos que já havia iniciado e começou, a partir do final de maio, a fazer avançar os projetos em carteira.
Com um total de 3.031 lojas no país, a operação polaca é responsável por mais de 70% das receitas globais o grupo.
Ainda na Polónia, a Hebe registou vendas de 115milhões de euros, uma redução de 1,7% em relação ao 1.º semestre de 2019, ”muito impactada pelo desempenho no 2.º trimestre que fica marcado por uma queda das vendas de 16,6%”, adianta a JM. No mês de junho, a situação melhorou à medida que os centros comerciais e as principais avenidas recuperam algum tráfego, com a operação no mercado da beleza da JM a somar mais 11 novas lojas, tendo chegado ao final do 1.º semestre com 284 localizações.
Já em território nacional, ambas as operações da JM registaram quebras nas receitas neste 1.º semestre. Do lado do Pingo Doce, as vendas caíram 2,9% face aos primeiros seis meses de 2019, totalizando 1.838 milhões de euros, enquanto no cash&carry Recheio, a quebra foi mais acentuada, com uma descida de 14,4% para os 400 milhões de euros.
Nos supermercados, “devido ao histórico de elevado número de visitas e alta densidade de vendas”, o Pingo Doce esteve “particularmente exposto aos limites impostos ao número de clientes dentro das lojas”, revela a JM.
Esta realidade traduz o forte impacto do 2.º trimestre, no qual as vendas caíram 8,8% e o Like-for-Like (LFL) (excl. combustível) recuou 8,5%, salientando a JM que o LFL (excl. combustível) de abril foi particularmente penalizador com a quebra rondar os 16%.
Já no Recheio, a quebra das vendas neste primeiro semestre de 2020 ascenderam a 14,4% face ao mesmo período de 2019, totalizando uns redondos 400 milhões de euros.
Com 42 lojas a operar em Portugal, a operação cash&carry da Jerónimo Martins viu o 2.º trimestre ser fortemente abalado pela crise no setor da restauração. Assim, as vendas no 2.º trimestre caíram 26,7% face ao mesmo período de 2019, refletindo o facto do canal Horeca representar cerca de 35% das vendas do Recheio ter estado encerrado até dia 17de maio. Em junho a tendência negativa aligeirou-se, em face de uma abertura muito progressiva das atividades de restauração e hotelaria no país, sendo que, no caso dos hotéis, as reaberturas verificaram-se maioritariamente já no 2.º semestre (a partir de 1 de julho).
Do outro lado do Atlântico, a colombiana Ara viu as vendas aumentarem 18,8% face aos primeiros seis meses de 2019, totalizando 423 milhões de euros.
O ano iniciou-se com um enquadramento económico favorável na Colômbia, tendo a atividade, a partir de abril, sido impactada de forma muito significativa pelas medidas de confinamento implementadas no contexto da situação de pandemia. Essas medidas mantiveram-se em vigor ao longo de todo o trimestre, prolongando-se também para o mês de julho.
Neste semestre, a companhia abriu 23 lojas (15 adições líquidas), tendo sido retomado, na parte final do 2.º trimestre, “o avanço dos projetos em pipeline, mas a um ritmo ainda condicionado pela crise sanitária e pelas medidas que foram impostas ao sector da construção”, refere a JM em comunicado.
Pedro Soares dos Santos, presidente e administrador-delegado do grupo Jerónimo Martins, refere no comunicado que comunica os resultados semestrais da companhia que “os primeiros seis meses do ano ficam sobretudo marcados pelos efeitos da disrupção causada pela pandemia no segundo trimestre Manter a continuidade dos negócios e a estabilidade das cadeias de abastecimento num contexto de crise prolongada e ainda sem fim à vista tem exigido das equipas, aos vários níveis da organização e particularmente àqueles que estão nas nossas lojas e centros de distribuição, resiliência, determinação e compromisso verdadeiramente extraordinários”.
O grupo definiu, assim, “prioridades comuns a todas as companhias do grupo, ao mesmo tempo que reforçámos a autonomia local”, salientando o responsável máximo pela JM que “esta autonomia permite uma resposta eficaz às diferentes medidas de contenção e diferentes comportamentos do consumidor observados nos países em que operamos”.
Para o futuro e uma vez que esta pandemia “impacta todos os negócios de forma não homogénea, variando em função das medidas impostas por cada país e da resiliência de cada mercado de consumo, a incerteza sobre o desenvolvimento da pandemia continua muito elevada”. Assim, Pedro Soares dos Santos admite que “ainda cedo para estimar o impacto real que, no conjunto do ano, terá na economia mundial e em cada um dos países em que operamos”. Por isso, a Jerónimo Martins, “nestas circunstâncias”, não apresenta guidance para 2020.