As previsões da Comissão Europeia (CE) para o ano 2020 foram revistas e não resultaram em boas notícias para Portugal, com a indicação de que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional afinal cairá 9,8% em vez dos 6,8% anunciado em maio.
Para 2021, os números também foram revistos em alta, embora aqui a subida não seja na mesma proporção, ou seja, passou de um crescimento de 5,8% para 6%.
Para a União Europeia (UE) a Comissão prevê uma “recessão ainda mais profunda com divergências mais acentuadas”, pode ler-se nas Previsões Económicas do verão 2020.
Assim, segundo a Comissão, a economia da área do euro registará uma contração de 8,7% em 2020 e um crescimento de 6,1% em 2021. Por sua vez, a economia da UE deverá contrair-se 8,3% em 2020 e crescer 5,8% em 2021. A contração em 2020 deverá, portanto, ser significativamente superior aos 7,7% previstos para a área do euro e aos 7,4% projetados para a UE no seu conjunto nas previsões da primavera. O crescimento em 2021 será também ligeiramente menos vigoroso do que o projetado na primavera.
De acordo com Valdis Dombrovskis, vice-presidente executivo e comissário responsável pela pasta “Uma Economia ao serviço das Pessoas”, “o impacto económico do confinamento é mais grave do que se previa inicialmente. Continuamos a navegar em águas agitadas e enfrentamos numerosos riscos, incluindo outra grande vaga de infeções. Esta previsão ilustra claramente a necessidade de um acordo sobre o nosso ambicioso pacote de recuperação, NextGenerationUE, para ajudar a economia. Para este ano e o próximo, podemos esperar uma retoma, mas teremos de estar vigilantes quanto ao ritmo diferente da recuperação. Temos de continuar a proteger os trabalhadores e as empresas e a coordenar estreitamente as nossas políticas a nível da UE, a fim de assegurar que saímos desta crise mais fortes e unidos”.
Já Paolo Gentiloni, comissário europeu responsável pela Economia, admite que “o coronavírus causou a morte de mais de meio milhão de pessoas em todo o mundo, um número que continua a aumentar diariamente — em algumas partes do mundo a um ritmo alarmante. Estas previsões revelam os efeitos económicos devastadores dessa pandemia. A resposta da política económica em toda a Europa ajudou a amortecer o golpe para os nossos cidadãos, mas continua a ser uma história de divergências crescentes, desigualdade e insegurança. E é por este motivo que é tão importante alcançar rapidamente um acordo sobre o plano de recuperação proposto pela Comissão, a fim de injetar mais confiança e mais recursos financeiros nas nossas economias neste momento crítico”.
Perspetivas sem alteração no tocante à inflação
As perspetivas globais em matéria de inflação pouco mudaram desde as previsões da primavera, embora tenham ocorrido alterações significativas nas forças subjacentes que determinam os preços.
Embora os preços do petróleo e dos produtos alimentares tenham aumentado mais do que o previsto, os efeitos desta subida dos preços deverão ser compensados pelas perspetivas económicas mais desfavoráveis e pelo efeito das reduções do IVA e de outras medidas adotadas em alguns Estados-Membros.
Atualmente, prevê-se que a inflação na área do euro, medida pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC), seja de 0,3 % em 2020 e de 1,1 % em 2021. No que respeita à UE, a inflação deverá atingir 0,6 % em 2020 e 1,3 % em 2021.
Riscos excecionalmente elevados
“Os riscos que pesam sobre as previsões são excecionalmente elevados e sobretudo no sentido negativo”, admite a Comissão.
A escala e a duração da pandemia e das eventuais medidas de confinamento que venham a revelar-se necessárias no futuro continuam a ser essencialmente uma incógnita. As previsões partem do princípio de que prosseguirá o levantamento das medidas de confinamento e não haverá uma ‘segunda vaga’ de infeções. “Há riscos consideráveis de o mercado de trabalho poder vir a sofrer mais prejuízos a longo prazo do que o previsto e de as dificuldades de liquidez poderem transformar-se em problemas de solvência para muitas empresas”, dizem os responsáveis europeus.
“A estabilidade dos mercados financeiros está ameaçada e existe o perigo de os Estados-Membros não conseguirem coordenar suficientemente as suas respostas estratégicas nacionais”, conclui a Comissão.