Num mercado onde as 100 maiores empresas de bens de luxo registam um crescimento anual de dois dígitos, há duas empresas portuguesas que se distinguem pelos seus modelos de negócio inovadores. A Luis Onofre consolida a sua internacionalização com a abertura de uma loja física na Europa e o reforço das vendas no e-commerce, e a unicórnio Farfetch integra na sua extensa oferta numa única plataforma uma nova marca de negócio sustentável.
Em entrevista exclusiva à Distribuição HOJE, o CEO da Luis Onofre e o general manager PT and chief supply chain officer da Farfetch analisam o estado-da-arte do retalho de luxo em Portugal e no mundo, coincidindo no essencial: na era digital, reinventar a indústria da moda passa por conciliar as vendas online com as emoções que a experiência de loja desperta.
Até 2020, mais de 50% dos consumidores de marcas de bens de luxo serão considerados “classe média” e o mercado de luxo continuará a experienciar um crescimento significativo para acomodar essa nova classe em ascensão. De acordo com a edição de 2019 do estudo “Global Powers of Luxury Goods”, da Deloitte, esta fatia de mercado é dominada por Millennials e Gen Z, com disponibilidade financeira e vindos sobretudo de economias emergentes.
Uma realidade à qual se soma “o impacto da tecnologia, que se faz sentir sobretudo no comércio eletrónico”, conclui a consultora: “numa altura em que as tendências estão em permanente mudança, as empresas de luxo começam a reexaminar o valor da sua história e herança de marca, e a adotar uma abordagem omnipessoal exclusivamente focada no consumidor da nova era”, sublinha Patrizia Arienti, EMEA region fashion & luxury leader da Deloitte. “Para atingirem este objetivo, estão a investir significativamente nas tecnologias digitais.”
No ano fiscal de 2017, as 100 maiores empresas de bens de luxo geraram 247 mil milhões de dólares em receitas, valor que representa um crescimento composto de 10,8% (um aumento de 1% face ao período homólogo). De salientar que um total de 66% das empresas registou um aumento das vendas de bens de luxo, com praticamente metade a reportar um crescimento anual de dois dígitos.
As dez maiores empresas foram responsáveis por quase metade (48,2%) do total de vendas de bens de luxo registado pelas empresas que integram o Top 100 da Deloitte. As três empresas que lideram a lista – LVMH (Moët Hennessy Louis Vuitton), Estée Lauder e Richemont – conseguiram manter as suas posições no ano em análise, tendo as restantes subido ou descido uma posição. As empresas do Top 10 apresentaram uma média de crescimento (14,2%) e rentabilidade (11,6%) superior à média do Top 100.
Segundo Pedro Miguel Silva, associate partner de retail & consumer products da Deloitte Portugal, “os grupos franceses continuam a dominar o mercado do luxo”: as maiores empresas estão em França, com dimensão média de 8,3 mil milhões de dólares, um valor muito superior à média do Top 100 – 2,5 mil milhões de dólares.
Já de acordo com dados da Global Blue relativos a Portugal, o nosso país foi o 10.º maior mercado Tax Free Shopping na Europa, em 2018, com o segmento de luxo a render 13% de todas as vendas em loja. Apesar de este segmento representar a quota mais baixa no desempenho português no mercado Tax Free Shopping, Portugal regista no mesmo um crescimento de 12% face a 2017, valor que é o dobro da média europeia, e que se destaca de todas as restantes categorias do retalho, em decréscimo.
Este resultado está em linha com a tendência de crescimento do mercado Tax Free Shopping nos países do Mediterrâneo, como Espanha, Grécia e Turquia, que nos último cinco anos estão a alavancar um mercado tradicionalmente dominado por países como a França, Itália e o Reino Unido, onde se encontram as marcas de luxo mais icónicas. Os shoppers gastam, em média, 848 euros por compra no nosso país.
Portugal continua a ser o país de eleição para shoppers de língua portuguesa (Angola, Brasil, Moçambique), que representam quase 60% do total desembolsado neste mercado, em território nacional, mas se os clientes angolanos eram historicamente os que mais gastavam em Portugal, hoje o país merece a atenção e o interesse crescente de nacionalidades como a americana e a chinesa, conhecidas pelo seu elevado potencial económico. A Global Blue revela, por exemplo, que o shopper chinês realizou 1% das compras europeias em loja em Portugal, o que representa 15% do Tax Free Shopping no nosso país.
Segundo os dados revelados em abril, as maiores oportunidades para que Portugal melhore a sua atratividade perante o turismo passam por atrair mais shoppers brasileiros, aumentar a quota do mercado chinês e alavancar o crescimento potencial dos Millennials.
Apesar de não figurar no Top 100 da Deloitte, Portugal regista ao longo dos últimos anos um aumento da presença de grandes grupos de bens de luxo na capital, sendo a Avenida da Liberdade o destino de eleição para compras de luxo. E, na avenida mais internacional da capital, figura uma marca portuguesa de renome: a Luis Onofre. Em entrevista à Distribuição HOJE, o fundador e CEO da Luis Onofre admite que a exportação para os mercados internacionais ainda representa a maior parte do volume de negócios da marca, ainda que o volume de negócios realizado em Portugal tenha crescido nos últimos anos. Luis Onofre adianta que, no que toca a parcerias internacionais “a China e os EUA são prioritários”, e que a marca está “a estudar a abertura de uma loja em nome próprio na Europa e a apostar no reforço do e-commerce”.
O comércio eletrónico é o mercado por excelência da Farfetch, que liga 2,6 milhões de clientes em 190 países a produtos de mais de mil das melhores marcas e boutiques do mundo, em mais de 50 países. Também em entrevista exclusiva à Distribuição HOJE, Luís Teixeira, general manager PT and chief supply chain officer da Farfetch, explica que a seleção de luxo da Farfetch numa única plataforma tecnológica e logística se alia à capacidade da empresa para ser “o parceiro de inovação do negócio físico”.
ARTIGO PUBLICADO NA EDIÇÃO DE JUNHO DE 2019 DA DISTRIBUIÇÃO HOJE