Os vinhos do Algarve começam a conquistar apreciadores em Portugal e no estrangeiro e o dono da Quinta dos Vales avisa: “deem-nos alguns anos e o Algarve poderá atingir o estatuto do Alentejo” e até do Douro, pelo menos nos brancos e rosés. A quinta, que vende os seus vinhos principalmente em Portugal (70%), com destaque para o Algarve (50%), lançou este ano dois vinhos Frisantes (Branco e Rosé) e dois Reservas (Branco e Tinto) e promete mais novidades já no início do próximo ano.
As primeiras vinhas foram plantadas na propriedade na década de 1980 por uma família de industriais do norte, pouco tempo depois a adega foi fundada. Com vendas de vinho a granel em toda a década de 1990, os primeiros vinhos comerciais foram lançados em 2003. Mas só em 2007, quando o empresário alemão Karl Heinz Stock comprou a quinta e começou a produzir vinhos, no ano seguinte, com marca Marquês dos Vales, aliando o vinho à sua paixão pela arte, é que a quinta começou realmente o seu percurso como produtor de vinho de qualidade.
A qualidade é, aliás, a principal meta de Karl Stock: “o nosso objetivo é investir na qualidade e não na quantidade”. E este investimento já deu frutos uma vez que vinhos da Quinta dos Vales foram considerados por quatro vezes (três nos últimos três anos) como “O Melhor Vinho do Algarve”, no Concurso de Vinhos do Algarve, entre outras distinções em concursos nacionais e internacionais. Em termos de quantidade, apesar de a quinta não a privilegiar, está entre os cinco maiores produtores da região, que tem cerca de 30 produtores.
Sobre a produção de vinho na região, o empresário alemão refere que “o Algarve foi no passado, mais uma indústria de vinho do que um produtor de vinhos de qualidade”, frisando que os dois caminhos têm direito a existir, Karl Stock lembra que “desde que o Novo Mundo está a inundar os mercados mundiais com vinhos produzidos industrialmente, mas saborosos e baratos, os produtores em massa do Velho Mundo tiveram de decidir entre fechar as portas ou apostar numa produção de qualidade, o que aconteceu no Algarve”. E acrescenta: “deem-nos alguns anos e o Algarve poderá atingir o estatuto do Alentejo e, se tudo correr bem, podemos até em mais alguns anos chegar perto da posição do Douro. No entanto, acho que os verdadeiramente fantásticos vinhos tintos serão, também no futuro, produzidos no Douro. Alguns terroirs nesta região são simplesmente imbatíveis. No entanto, vamos tentar”.
Aposta na inovação
Aliando sempre o vinho à arte e ao enoturismo e eventos (área que mais tem crescido), o proprietário desta quinta algarvia de 44 hectares tem apostado em produtos inovadores como o Licoroso (2010), vinificado a partir de uma das castas típicas de Portugal – a Touriga Nacional –, que é um vinho generoso seco de cor intensa e que revela um leque aromático bastante complexo. Mas também ao lançar este ano vinhos Frisantes (Branco e Rosé).
Após a vindima de 2015, que decorreu ainda mais cedo do que em anos anteriores (entre 31 de julho e 21 de setembro), a empresa algarvia anunciou novo crescimento da produção: “vindimou-se um total de 190 toneladas de uva, que se traduz em 130 mil litros de vinho” e que no início do próximo ano serão reveladas mais novidades.
Para já, afirma que “podemos apenas adiantar que iremos lançar um vinho branco muito especial, utilizando a casta Antão Vaz, muito diferente de todos os brancos existentes no Algarve” e que “a gama dos rosés irá sofrer alterações, surgindo um vinho rosé de gama superior/alta, que continuará na linha dos rosés de 2014: vinhos leves, muito frutados e de cores claras”, concluindo: “também nos tintos teremos alterações, estando na calha um tinto algo invulgar”.
Karl Stock diz-nos que dos 130 mil litros vinificados este ano, cerca de 76 mil litros são vinho tinto, 36 mil litros branco e 18 mil de rosé, e aponta que “vamos aumentar a produção principalmente nas gamas com preços entre os 6€ e os 10€”, salientando que “neste momento temos 21 rótulos, concentrados nas gamas de monovarietais e DUO, apostando nas características específicas das castas e não em blends”. Esta aposta reflete claramente a opinião do empresário sobre o que é um grande vinho, frisando que não se considera “um grande especialista em vinho”, adianta: “um grande vinho, certamente, tem de ser um vinho honesto, de preferência não um blend, mas um monovarietal, exatamente a combinação da natureza e das habilidades do enólogo”.
O proprietário conta ainda que a quinta tem “alguns vinhos especiais na cave mas, por agora vamos mantê-los em segredo”.
Distribuição e HoReCa
A produtora algarvia exporta cerca de 30% da sua produção para diversos países, sendo a China (com 17,66%, em 2014) o maior mercado, seguido pela Bélgica (com 5,28%), Alemanha (4,88%), Taiwan (0,68%), Malásia (0,67%), Canadá (0,65%), Polónia (0,32%) e Suíça (0,18%), entre outros. Assim, grande maioria da produção (70%) é comercializada em Portugal, ficando cerca de 50% no Algarve.
O dono da Quinta dos Vales conta à DISTRIBUIÇÃO HOJE que as várias gamas da marca Marquês dos Vales (ver Caixa), principalmente os entrada de gama como o Selecta e o Primeira Selecção, mas também o DUO e até o Grace Vineyard, estão disponíveis em várias superfícies do Algarve e do resto do País, nomeadamente nas cadeias Pingo Doce, Continente e em alguns Intermarché. E explica que “concentramo-nos principalmente no mercado doméstico uma vez que a nossa força de marketing é, seguramente, a nossa combinação de arte e vinho, o que requer logística local”, mas “a médio prazo, queremos ser a primeira escolha nos vinhos algarvios pelos sommeliers dos melhores restaurantes de Portugal”. Assim, “os restaurantes serão os principais locais de marketing e o retalho o ponto final de venda para quantidades maiores”, adianta.
O responsável diz que a loja da quinta representa já uma boa parte das vendas, nomeadamente devido ao grande número de eventos que lá se realizam, e refere ainda que “a loja on-line está fortemente orientada para os mercados europeus de exportação do Reino Unido, Irlanda, Holanda, Alemanha e Suíça, já que estes são os países de origem da maioria dos visitantes que vêm participar nas atividades que fazemos regularmente (degustação de vinhos e passeios), bem como na maioria dos eventos particulares e corporativos”.
Qualidade acima de tudo
Voltando ao objetivo de fazer vinhos de qualidade, o proprietário explica que “a Quinta dos Vales foi desenhada como uma adega boutique. A nossa capacidade máxima de produção é de 130 mil litros por ano [precisamente a produção tingida em 2015]. Assim, tentamos diversificar ao máximo, por isso temos sete tintos, nove brancos, quatro rosés e um licoroso, sempre produzidos sob um rigoroso processo de controlo de qualidade, sem fazer compromissos”.
Desde o início que Karl Stock se propôs a fazer “a melhor adega do Algarve”, mas “como sabia que os meus colegas/concorrentes eram sérios produtores de vinho era preciso lutar por qualidade absoluta se queria atingir o meu objetivo”. O empresário explica que “esta qualidade, e a posição que temos tido nos últimos três anos, tem um preço que implica reduzir a nossa produção potencial em quase 60%, porque algumas semanas antes da vindima, usando o dobro da mão-de-obra habitual, fazemos uma monda de cachos radical, deixando apenas os melhores, entre outras medidas que vamos tomando ao longo do ano”.
Exemplo desta política e empenho na qualidade é a análise que a empresa fez já aos vinhos deste ano, um ano que todos produtores e especialistas do setor dizem que pode ser excelente: “vendo a evolução dos vinhos, vemos que os brancos que mais se destacam são os produzidos a partir das castas Arinto, Antão Vaz, Verdelho e Viognier, sendo que este último fermentou em barrica de carvalho francês para, desde cedo, podermos evidenciar a estrutura que é característica da casta. Serão brancos com um menor teor alcoólico, comparando aos vinhos de anos anteriores, com uma enorme frescura e acidez equilibrada”, explica a Quinta dos Vales.
Já “os tintos que demonstram um maior potencial são produzidos a partir da casta Alicante Bouschet, uma vinha relativamente nova mas que já dá origem a um vinho muito complexo, Petit Verdot, Touriga Franca e Touriga Nacional”, diz a empresa, acrescentando que em outubro “todo o vinho tinto passará para barricas, para que o seu processo de estágio continue.
Cores fortes e aromas exuberantes, conjugados a uma enorme complexidade em termos de paladar dizem-nos que os tintos de 2015 estão no caminho certo para se tornarem grandes vinhos”.