A Quinta da Alorna quer crescer em produção, qualidade e área, apostando na expansão para outra região próxima, com Alentejo e Lisboa a configurarem as melhores opções. Esta estratégia tem como objetivo “aumentar escala e rentabilizar melhor a estrutura”, diz o diretor-geral, adiantando: “Queremos produzir 2,5 milhões de garrafas a médio prazo”.
A Quinta da Alorna, em Almeirim, produz cerca de 1,8 milhões de garrafas mas “o objetivo é crescermos já este ano para os dois milhões e queremos produzir 2,5 milhões de garrafas a médio prazo”, afirma o diretor-geral da empresa, que é uma das maiores produtoras de vinho da região do Tejo.
Pedro Lufinha adianta à DISTRIBUIÇÃO HOJE que, para isso, além da plantação de nova área de vinha e reconversão de algumas castas noutras mais apreciadas, “como a Marsanne em Sauvignon Blanc”, um dos objetivos a curto prazo é a expansão da produção para uma nova região vitivinícola nacional, “para aumentar escala e rentabilizar melhor a estrutura”, apontando o responsável para uma região “próxima, preferencialmente através de aquisição ou cedência de exploração de um produtor já existente”.
O diretor-geral da Alorna diz-nos que haverá também um crescimento da área de armazenagem, com a construção de um novo armazém. “Será um armazém para produtos de maior rotação”, explica.
“Este aumento de quantidade será também acompanhado por uma melhoria da qualidade da produção”, salienta Pedro Lufinha, adiantando: “Por isso, queremos construir uma micro adega para os nossos vinhos de topo e avançar, nomeadamente, com um super premium”.
A Quinta, fundada em 1723, é hoje gerida pela quarta e quinta geração da família Lopo de Carvalho – herdeiros de D. Leonor de Almeida Lorena e Lencastre, quarta Marquesa de Alorna, conhecida por ser a mulher mais culta da sua época – e está dividida em duas empresas: a Sociedade Agrícola da Alorna, constituída no início do Séc. XX, detentora das outras empresas do grupo e que congrega as atividades agrícola e florestal; e a Quinta da Alorna Vinhos, responsável pelo desenvolvimento da principal atividade do grupo (e 65% da faturação), que consiste na produção e comercialização de vinhos, fazendo também a gestão da Loja da Quinta, e do Palácio da Quinta (utilizado para fins privados e promocionais).
DM representa 70% das vendas
A Quinta comercializa diversas marcas exclusivas, de cliente e para exportação (como Festa Rija para o Lidl, Fazendas Perdidas para a Auchan ou Vale de Nabais para o Aldi, entre outras), mas o ex-libris é a marca homónima – Quinta da Alorna – , nas suas várias referências, a par do topo de gama: Marquesa de Alorna.
Os vinhos Quinta da Alorna estão disponíveis da distribuição moderna (que representa cerca de 70% das vendas da empresa), em várias insígnias, enquanto os Reservas se encontram apenas em algumas cadeias e lojas e os topo de gama só no Gourmet do Jumbo e do El Corte Inglés e na Cave do Continente, bem como lojas da especialidade. Todas as referências estão também no HoReCa. “Precisamos dos volumes do off trade mas é no on trade que se constrói a marca”, frisa o diretor-geral.
Para completar o seu portefólio, a Quinta da Alorna tem também Azeite Virgem Extra, resultante de um blend das variedades de azeitona: Galega, Picual, Cobrançosa e Arbequina, cultivadas em solos de Bairro na região do Tejo. Um azeite que “compramos sempre ao mesmo produtor”, nota o diretor-geral.
A exportação é outra aposta estratégica e corresponde já a 45% das vendas, com os vinhos da Alorna a viajarem para 28 países, com destaque para seis mercados estratégicos, “que representam 78% do que é vendido fora de Portugal: China, Brasil, Rússia, Polónia, Reino Unido e Estados Unidos”. No estrangeiro as vendas são quase todas para o canal HoReCa.
A Alorna faz vindima mecânica na maioria das suas vinhas, mas também “manual nas castas mais sensíveis e para os topos de gama”, explica o responsável, acrescendo: “vinificamos todas as castas em separado e depois a nossa enóloga, Martta Reis Simões, faz os lotes”. A empresa emprega um grupo de cerca de 20 pessoas que, embora não estejam a tempo inteiro, vão fazendo as várias operações na vinha ao longo do ano (poda, monda de cachos, vindima, etc.).
A região vitivinícola do Tejo tem três tipos de terroir: Charneca, Bairro e Lezíria e a Quinta da Alorna tem vinhas na zona da Charneca e “noutra zona que é um meio termo entre a Charneca e a Lezíria”.
Enoturismo é outra aposta
O belo Palácio da Quinta é usado pela família aos fins de semana, mas durante a semana serve para fins promocionais dos vinhos da Alorna, “para distribuidores, clientes, parceiros, jornalistas e outros agentes do setor”, explica a responsável de Marketing e Exportação, não estando aberto a visitantes. “O Palácio é a âncora da marca, a ligação à família e à história da Quinta”, afirma Márcia Farinha, enquanto Pedro Lufinha salienta: “Criamos relações e quando vão daqui sabem melhor falar da marca, estes rótulos passam a ter uma história”.
A Quinta da Alorna recebe cerca de 700 visitantes por ano, que podem fazer provas na Loja, visitar as vinhas e o Centro Equestre. Mas há mais projetos nesta área, nomeadamente para a transformação de alguns edifícios junto ao Palácio em salas de provas e de eventos para empresas.
Além desses projetos, entre 2001 e 2013 a empresa realizou investimentos no valor de 5,5 milhões de euros, que incluíram a atualização e ampliação da adega. Já em 2015, deu-se início a um novo plano de investimento na área dos vinhos, de 1,3 milhões de euros, cuja conclusão está prevista para este ano e que comporta: aumento de capacidade, otimização do processo de vindima, renovação da adega e criação de uma nova adega boutique para reforçar a capacidade de produção e comercialização de produtos premium, para poder avançar para a elaboração de um vinho super premium.
Todos os armazéns em regime FIFO
Na área da logística, Pedro Lufinha conta-nos que só há pouco compraram pocket scanners e que “ainda estamos a fazer testes de como integrar tudo num sistema informático único”, mas garante que, por agora “todos os armazéns funcionam em regime FIFO”.
A capacidade é 1.350 paletes, mas vai aumentar com a construção do novo espaço para produtos de maior rotação. A empresa compra praticamente toda a sua logística de inbound (garrafas, rolhas, cápsulas, rótulos, caixas, etc.) a fornecedores nacionais.
A Quinta tem 220ha de vinha, com as principais castas nacionais e estrangeiras, e compra também uva na região (para outras marcas que não Quinta da Alorna), possuindo uma capacidade de produção de dois milhões de quilos de uva e de armazenamento de três milhões de litros de vinho. A empresa tem duas linhas de engarrafamento próprias, uma para garrafas e outra para Bag in Box.
Grande parte dos vinhos da Alorna estagia em madeira – pelo menos algumas percentagens dos lotes – pelo que “compramos todos os anos 80 a 100 barricas”, afirma o diretor-geral.
A Quinta da Alorna tem, em média, duas expedições por dia e no mercado nacional só entrega ao cliente quando são produtos de marca própria, as restantes vendas são ex works.
Produção sustentável e de energia
A produção sustentável é uma das apostas da empresa de Almeirim, que tem toda a sua produção no regime de Proteção Integrada, “além de que não usamos herbicidas na vinha, utilizando apenas corta-mato na entrelinha”, assegura Pedro Lufinha, salientando: “Estabelecemos também uma parceria com um apicultor que coloca as suas colmeias nos nossos campos e vinhas, para as abelhas os polinizarem e fazerem igualmente controlo de pragas”.
A Alorna apostou também na produção de energia fotovoltaica, tendo hoje seis centrais “que produzem cerca de 139% da energia que consumimos na adega”, refere o responsável, salientando que “vendemos tudo e compramos tudo, porque o autoconsumo não funciona para nós”.
O diretor-geral adianta-nos ainda que a Alorna tem feito grandes investimentos na poupança de água, “com sondas de humidade, variadores de velocidade e caudalímetros dos 11 pivots que temos”, além de ter também alugado a antiga vacaria da Quinta a um produtor de pequenos ruminantes, sob condição de ele colocar as cabras e ovelhas nas zonas florestais da empresa, para “limparem os terrenos e lá deixarem ‘adubo’”. E também na utilização de técnicas de agricultura de precisão, como cartas de NDVI (Normalized difference vegetation index) que permitem ver o vigor vegetativo da plantas e as áreas onde há mais ou menos necessidade de intervenção.
Na área florestal (1.900ha), destaca-se o sobreiro para a cortiça, o eucalipto para pasta de papel e o pinheiro manso, com a venda da pinha. As culturas agrícolas (500ha, sendo 320ha com pivots de rega) são essencialmente para a indústria e “quase tudo é vendido diretamente no campo, não temos de ter armazéns nem outra logística”. A Alorna produz batata, que é vendida à Organização de Produtores (OP) Torriba, o milho vai para outra OP – a Agromais –, enquanto a ervilha é colhida no campo diretamente pela Bonduelle e a Dardico, a fava segue para a Monliz, o amendoim para a PepsiCo (através da Torriba), e o girassol e a colza são comprados pela Sovena. Mas estas são as culturas desta campanha, todos os anos há algumas variações de acordo com a procura e condições climáticas.