A costumização está cada vez mais na moda. E por isso falámos com Joana Lemos a mentora da marca Freakloset. Uma ideia que surgiu de um business plan no mestrado de marketing e que foi a base de um dos negócios mais inovadores na área do calçado. A internacionalização já começou. Sabem como e porquê?
Quando é que o Freakloset foi fundado?
Foi criado sem setembro de 2014. E surgiu de uma ideia na minha tese de mestrado em marketing. Tinha a escolha de fazer uma tese de mestrado ou um business plan e escolhi a segunda opção com um negócio que tivesse a ver com o conceito de personalização, do qual gosto muito. Na altura não estava apenas focado em sapatos, mas que tivesse oito peças de vestuário e calçado que todos deviam ter no guarda-roupa. Depois afunilar somente na área da calçada. Porquê? Nada de especial porque adoro sapatos e descobri que o meu avô era sapateiro. E nessa altura nunca pensei em abrir uma empresa e depois, porque não? E decidimos avançar. No último ano e meio somos três. E tivemos mais de ano e meio a fazer testes e protótipos e a testar materiais porque a sua produção é algo complexa, porque estamos a misturar as partes de trás dos sapatos em neoprene e o resto da matéria prima dos sapatos. Já mudámos de fábrica várias vezes porque não foi fácil de criar. Por exemplo o modelo derby é um sapato que já existe há dois
E fabricam tudo em Portugal?
Sim, fazemos tudo em Portugal, em São João da Madeira.
Vocês têm alguns modelos fixos e costumizavéis?
Temos cinco modelos que são costumizáveis. Sugerimos algumas combinações, mas o conceito do Freakloset é pegar nos clássicos do calçado e dar-lhe um twist contemporâneo. E isso passou por dar mais conforto e adaptável a qualquer situação. É possível criar um sapato todo preto, o mais sóbrio possível, como pode ser um sapato com pele vermelho com sola em amarelo adaptado à personalidade de cada um. Quem quiser pode ir ao nosso site e temos um software que cria o sapato ao gosto do consumidor. E temos outra área a que chamamos de coleção fixa, em que basicamente duas a três vezes por ano fazemos algumas combinações e algum stock. A única diferença para o consumidor é que esta coleção não é tão cara como na costumização, e na coleção fixa dura dois dias a chegar ao cliente – enquanto na costumização demora três semanas.
E onde estão a vender, somente online, lojas?
80% das nossas vendas são online. Não era esse o plano, no início queríamos que fosse 100% online. E começamos a perceber que ao entrar nos retalhistas podíamos dar-nos a conhecer de outra forma.
E onde estão em termos de lojas?
Lojas físicas temos no Porto a Scar.Id, e em Roterdão estamos na MNDZ Shoes e lojas online como a Minty Square e a Tuedder. Para além de aqui, em Lisboa, termos o showroom onde se pode comprar, para além, claro, do nosso site que é muito importante por causa do nosso software de costumização. Mas só agora estamos a falar com retalhistas para estarmos em mais pontos de venda.
E no futuro qual o canal que vai ter mais peso nas vossa vendas?
O retalho vai construir uma boa base de confiança da marca com o consumidor, o que é muito importante para marcas que estão a ser lançadas.
E têm algum tipo de lojas que dão preferência para os vossos produtos?
Sim, sem dúvida. Lojas que sejam viradas para o nosso target, e que faça sentido estar ao lado de outras marcas que tenham o mesmo nível de posicionamento. Ou então pelo nosso design e conceito, as concept stores. O nosso produto não é tanto visto como um produto de moda mas como um produto de design.
E qual o vosso público alvo?
Ainda não temos um tipo de cliente Freakloset, mas pelas vendas até ao momento e ao contrário do que estava à espera temos vendido mais para homens do que para mulheres e entre os 30 e 40. Tínhamos definido o publico entre os 25-30 aos 45-50.
E qual o vosso produto estrela?
É o sapato Dérbi, de longe. E a seguir o Monk.
E como estão em termos de internacionalização?
Queremos afirmar-nos como marca internacional, temos muito interesse em estar no mercado do norte da Europa. O Reino Unido é muito interessante porque é muito forte no e-commerce e também consome muito calçado. E estivemos presente na London Fashion Week numa pareceria com a marca Sibling – que não tem calçado.
Que outros mercados querem estar presentes?
Maioritariamente temos definido, o Reino Unido, França, Dinamarca e Alemanhã. Quer por estilo de consumidor online e de compra de sapatos. Também queremos ir para os Estados Unidos e depois o Japão, e obviamente que vendemos para os EUA, mas não estamos a dedicar nenhum esforço de publicidade para esses mercados. Mas queremos, dentro de 1 a 2 anos.
A questão do Made in Portugal no setor do calçado tem aberto algumas portas?
É algo que comunicamos e fazemos questão de comunicar, se acho que até agora tem aberto muitas portas, ainda não tenho dados suficientes para dizer isso. Em termos de qualidade estamos ao lado dos italianos. O Made in Italy será sempre muito importante e terá muito peso, mas o Made in Portugal é visto como um carimbo de qualidade. Há marcas importantíssimas como a Fly London e as Josefinas que ajudam outras marcas na sua internacionalização. Estamos associados à APPICAPS para o apoio de ida a feiras e também temos um projeto Portugal 2020 para internacionalização.
Em termos de peso de vendas internacionais, qual a percentagem que pensam que irão ter nos próximos anos entre as vendas internacionais e nacionais?
Diria que cerca de 80% das vendas internacional e 20% nacional. Ainda há alguma desconfiança na compra de sapatos só online. Recebemos vários pedidos para virem ver ao nosso showroom, por exemplo. E estamos a tentar melhorar o nosso site para ajudar nos pedidos online. Mas é ainda um entrave para o consumidor português. Por isso gostaríamos dentro de dois anos ter uma loja própria em Portugal.
Continuam a manter a ideia de ir para outros produtos, fora do calçado. Ainda se mantêm na vossa estratégia?
Sim isso faz parte da evolução futura a longo prazo do Freakloset, ainda temos mais modelos de calçado para lançar. Queremos ter um conjunto de clássicos de calçado, umas sandálias, uns chinelos, umas sapatilhas. Depois desta parte da marca estabilizada evoluir para o têxtil e acessórios. Aplicar este conselho para outras áreas.
Quanto é que já investiram no desenvolvimento do Freakloset?
Até agora tivemos um investimento de 250 mil euros. Em termos de vendas, online, as expetativas estão a ser superadas.
A forma de fazer negócio em Portugal está a mudar? Principalmente para uma marca mais disruptiva como a vossa?
De uma perspetiva fabril e de produção ainda há muitos entraves em matéria de inovação. Por exemplo, só agora acertamos com o nosso fornecedor para o fabrico das nossas peças. E esta foi a nossa maior dificuldade. Em termos de feedback de produto tem sido excelente. Na área de moda é ainda muito dominado pelas grandes marcas, não obstante a isso, temos visto em alguns players, com a Farfetch que está a apostar em marcas mais pequenas e interessantes, contudo ainda há um caminho para trilhar.
Artigo publicado na edição de abril de 2017 da revista DISTRIBUIÇÃO HOJE