A primeira flagship da marca Skechers foi inaugurada em julho passado no Rossio. Um investimento da marca que pertence ao Grupo LVL, a que irá seguir-se a aposta no mercado espanhol, devido à sua economia dinâmica. Luís Mota é um dos administradores do Grupo e dá-nos uma perspetiva do negócio e das metas para os próximos anos.
Como surgiu a necessidade de abrir uma loja Skechers numa zona nobre da cidade?
Os três administradores da empresa já tinham alguma experiência no retalho de calçado. Apareceu uma oportunidade quando a Skechers estava à procura, na Europa, de uma empresa para criar uma rede de lojas monomarca em Portugal. Tivemos um processo de negociação longo e acordámos um projeto que passava pela abertura de duas lojas por ano num período de seis anos. Abrimos a primeira, em 2010, no Almada Fórum, que foi particularmente bem-sucedida, e criámos algum entusiasmo para continuar com o processo. Fomos abrindo paulatinamente lojas, em Lisboa, no Algarve e no Norte, de forma a cobrir várias zonas do país.
A partir de certa altura, entendíamos que era importante ter uma flagship numa zona nobre, preferencialmente na capital. Apareceu a oportunidade deste imóvel e conseguimos fazer um acordo que considerámos dentro do limite do razoável, fazendo um esforço de investimento significativo (só nesta loja estão gastos cerca de 150 mil euros) mas que contamos venha a ter uma rentabilidade razoável.
Para além do aspeto de rentabilidade do investimento si, a presença de uma flagship é importante para as marcas. É uma forma de demonstrar que estão presentes nos locais mais premium.
Claro que não basta estar aqui. Há que ter uma rede e estar presente noutros locais mas ter uma exposição maior numa zona como esta era algo que a marca privilegiava, e nós também, o que justificou a abertura.
Esta inauguração acontece depois de vários anos de atividade da Skechers no país. A experiência anterior foi decisiva?
Não é uma decisão que se tome de ânimo leve mas entendemos por bem fazer este investimento e abrir uma flaship. Esta loja é a nossa 11ª loja da marca em Portugal, tem dez colaboradores e conta com uma performance muito simpática. Tudo leva a crer que venha a ser a nossa melhor loja da Skechers.
O que caracteriza esta flagship é o facto de ter uma componente de procura que não está dependente da conjuntura nacional. Muitos dos clientes são turistas que não têm restrições em termos de poder de compra. Este público é particularmente importante. Apesar do esforço que tem sido feito em comunicação, é uma marca que diz mais aos turistas do que pelos portugueses. É a segunda marca de calçado a seguir à Nike, nos EUA, está presente em todo o mundo com assinalável sucesso, e Portugal não é exceção.
As nossas lojas do Algarve, localizadas em Faro e em Albufeira, funcionam relativamente bem e também contam com um extra relacionado com o facto de se situarem em zonas turísticas e serem muito alavancadas por clientes estrangeiros.
O cliente português, no entanto, está sempre presente e representa a maior parte das nossas vendas do grupo.
O que diferencia esta flagship de outras lojas da marca?
Durante estes seis anos, houve uma evolução do design das lojas, sendo que a loja do Rossio é duas vezes maior que as restantes. A parte comercial tem 160 mt2 e disponibilizamos cerca de 600 modelos diferentes.
Uma das características da marca da Skechers é o facto de ter uma oferta abrangente, desde crianças, a adultos, e até a seniores. Temos ainda modelos de desporto e é difícil um cliente entrar na loja e não encontrar aquilo que procura. Um casal com filhos resolve uma série de necessidades nesta loja.
A atividade da marca tem sido sustentável ao longo do ano independentemente da crise económica?
A marca Skechers tem uma boa relação preço-qualidade e um grande peso publicitário. Conseguimos fazer face à crise com uma evolução positiva nas vendas porque garantimos uma oferta consistente, com uma boa relação qualidade / preço.
Qual a meta de crescimento até ao final do ano?
O acordo inicial com a Skechers, de seis anos, implicava a abertura de 12 lojas até este 2016. Esse acordo foi, entretanto, renegociado para 24 lojas em doze anos. Já temos 13 lojas da Skechers e vamos começar a abrir lojas em Espanha, atendendo às circunstâncias peculiares que se vivem em Portugal. Temos uma previsão de abrir, no mínimo, 12 lojas em Espanha, nos próximos seis anos. Sentimos a necessidade de canalizar os nossos investimentos para o exterior.
Este ano, abrimos a primeira loja em Santiago de Compostela e vamos ter outra, a partir de novembro, em Tenerife. A Skechers entendeu que éramos um caso de sucesso na história da marca porque não há muitos países da Europa que possam rivalizar connosco e com a nossa empresa numa abertura tão rápida. Só a Irlanda acompanha a atividade ao nosso ritmo.
O mercado espanhol é uma aposta apetecível?
Conseguimos cumprir o que estava estipulado dentro das datas previstas. Nas atuais circunstâncias, qualquer investimento em Portugal tem de ser muito ponderado. O mercado espanhol representa a nossa atual aposta. É uma economia crescente e dinâmica.
Nós, como empresários, temos de nos ajustar à situação que existe no país a um determinado momento. Acabámos por apostar no redirecionamento do nosso investimento para o país onde existe uma situação fiscal diferente da existente em Portugal. A nossa perspetiva é que o mercado espanhol venha a representar, no futuro, e no mínimo, 30% da nossa faturação, embora seja um processo longo e dependente das oportunidades que surjam.
Se surgir uma oportunidade que tenha uma probabilidade rentável, cá estaremos para investir, até porque somos um grupo bastante sólido e sem dificuldades de financiamento. Não descartamos essa hipótese.
No que respeita à atividade do grupo em geral, qual o peso da Skechers em Portugal, para os resultados?
O Grupo LVL é mais antigo que a presença da Skechers no país. Começou com a abertura das lojas Geox, há aproximadamente 12 anos, também curiosamente no Almada Fórum. Tem vindo a progredir e temos uma cobertura já grande do mercado nacional, com 21 lojas, das quais duas são outlets. Já temos também três lojas em Espanha, com a marca Geox. Detemos ainda lojas muito especializadas de uma marca de equipamentos para motards, a Dainese.
O ritmo de abertura das lojas da Skechers tem sido superior ao das lojas Geox porque esta segunda já está consolidada e tem uma cobertura que consideramos adequada. As duas marcas não competem muito entre si. Uma é muito mais clássica do que a outra, os clientes de ambas têm diferentes perfis, mas a componente de senhora é sempre superior à de homem.
Qual é a faturação atual do grupo LVL?
O grupo tem uma faturação acima dos 20 milhões de euros e emprega mais de 200 pessoas.
A faturação global, mesmo nos últimos anos, tem vindo a subir de forma sustentada sendo que o objetivo atual passa por diminuir a dependência do mercado nacional, possibilitando a manutenção de taxas de crescimento significativas.
Este é um mercado dinâmico e peculiar?
O mercado do calçado é muito peculiar, sobretudo na faixa etária dos jovens. Durante muitos anos, não se compravam ténis brancos, em Portugal. De há pouco tempo a esta parte, estes ténis são um sucesso, sobretudo na faixa etária da adolescência e do jovem adulto. Chegámos a ter que devolver quantidades inimagináveis de ténis brancos. Os mesmos que hoje esgotariam. Existem enormes oscilações neste mercado que têm componentes muito diversos.
A compra de coleção é determinante e é realizada com muita antecedência. No próximo mês, vamos comprar a coleção de outono – inverno do próximo ano. Ainda nem começámos a vender a deste ano e já estamos a pensar na seguinte. Logo, a capacidade de reação não é tão grande quanto gostaríamos.
Com as ferramentas e stocks de que dispomos, tentamos adequar a oferta às necessidades das pessoas.
Como funcionam as promoções nas vossas lojas?
A filosofia americana é um pouco diferente da europeia. Nos EUA, o mercado não funciona tanto com saldos, mas com campanhas específicas em determinados momentos da temporada. Quando começámos a trabalhar com a Skechers, começámos a desenvolver campanhas que visem trazer os clientes à loja e aumentar as vendas em determinado momento (Dia da Criança, Dia do Pai, Dia da Mãe, entre outros).
Temos um plano de marketing que prevê uma série de atuações com promoções pontuais para um determinado tipo de produtos ou de clientes. Fazemo-lo com frequência de acordo com um calendário com datas marcantes.
Tem 57 anos e é licenciado em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa. Tem um MBA da Universidade Nova de Lisboa.
Após 20 anos como administrador numa empresa industrial, mudou-se para o retalho há cerca de doze.
Juntamente com dois sócios, criou o Grupo LVL que atualmente detém um total de 39 lojas, das marcas Dainese, GEOX e Skechers.