O objetivo era simples: perceber como está o retalho e mesmo a grande distribuição a contratar. A DISTRIBUIÇÃO HOJE ouviu várias empresas na área do recrutamento de recursos humanos e a conclusão é óbvia: Há novos desafios em cima da mesa quer para quem contrata, quer para quem quer ser contratado.
“Ao longo destes últimos anos, contratar para o setor do retalho tem-se tornado numa verdadeira roda-viva”, começa por dizer a consultora da Michael Page, Mara Martinho. E explica: “Por um lado, a balança da oferta e da procura, no mercado em geral, inverteu-se e, por outro lado, a exigência em termos de perfil também se complexificou, o que implica escassez de recursos humanos válidos. É clara a dualidade entre o comércio de proximidade e o e-Commerce que, por sua vez, induz a versatilidade quer de hard quer de soft skills dos perfis deste setor de atividade. Continua a ser um mercado muito versátil e extremamente rápido”.
Ana Almeida, Consultant sales & marketing retail da área profissionais da Randstad Portugal, salienta ainda que neste setor ganha especial importância “não só o recrutamento especializado, mas a avaliação de competências e o percurso profissional sustentável ao nível da adaptação a novas realidades internacionais, mas também um bom suporte tecnológico”.
Além disso, “as empresas procuram profissionais especializados e com competências cumulativas em vários domínios. Procuram também potencial e atitude, pessoas apaixonadas pelo setor e pelos desafios que lhes são colocados”, avança Sílvia Gomes, senior Manager da Msearch.
Lucilia Esteves, responsável pela Talenter Concept Store do Chiado, concorda que o mercado procura profissionais ambiciosos e polivalentes. Daí que considere que “é crescente a necessidade dos profissionais desenvolverem soft e hard skills que vão ao encontro do que é expectável por parte das empresas”.
Soft skills
Mas o que procuram as empresas atualmente? “Cada vez mais é valorizada a vertente humana dos candidatos aliada naturalmente à qualificação dos mesmos. Assim, a Randstad tem estado focada em competências como a atitude, a adaptabilidade, a inteligência emocional ou a capacidade de resolução de problemas, que cada vez mais são valorizadas no mercado do retalho”, responde Ana Almeida.
As soft skills, ou seja, os comportamentos e as atitudes que facilitam o relacionamento com o outro, ganham cada vez mais importância na hora de escolher o candidato certo. Susana Ferreira, Branch Manager da Kelly Services, admite que “um profissional pode ter anos de experiência no setor, poderá ter competências técnicas acima da média mas terá igualmente de se destacar relativamente à sua postura, ao seu carácter.”
Outro aspeto importante é a mobilidade geográfica, como refere Filipa Silva, Team Leader na Hays, sendo que, segundo a responsável, os perfis mais procurados são Store Manager, chefe de secção, chefe de divisão e diretor de loja.
Contudo Sílvia Gomes, Senior Manager da Msearch, recorda que “as empresas têm como prioridade o digital, pelo que os perfis de marketing com esta experiência são bastante valorizados no mercado”.
Ana Almeida concorda e salienta até que Digital Manager, CRM Manager, Area Manager, Gestor de Categoria ou E-commerce são as funções mais procuradas.
Mas e ao nível de gestores e Key Account Manager, a tendência mantém-se? “Sim, é uma tendência que se mantém. Valorizando perfis com boa base e capacidade analítica, combinando com a drive comercial e relacionamento interpessoal, aliado à capacidade de negociação”, afirma Sílvia Gomes.
Aliás, segundo Filipa Silva, da Hays, “a função de key account manager na zona norte continua a ser das mais procuradas e também das mais difíceis de encontrar, uma vez que esta função está habitualmente baseada em Lisboa, onde se encontram grande parte das estruturas e das centrais”.
Perfis dos profissionais
Pedro Amorim, managing director da Experis, explica que “os perfis fortemente ligados a uma vertente comercial vão continuar a ter uma forte procura. No universo do Grande Consumo, a função de Key Account Manager é das que tem um maior índice de procura, seja ao nível do canal Off Trade (canal moderno), seja ao nível do On Trade (Horeca). Este último tem vindo a ser gradualmente procurado, muito por força da estabilização do mercado com base no desenvolvimento do setor hoteleiro e do turismo, o que tem conduzido a um aumento significativo do volume de vendas no canal HORECA“. Acrescentando que: “O mercado do Retalho tem vindo a sofrer alterações profundas nos últimos anos, e isso tem vindo a refletir-se também nos perfis dos profissionais desta área. Dadas estas mudanças, para conseguir acompanhar as especificidades do retalho hoje em dia, os profissionais devem estar fortemente orientados para uma vertente analítica do negócio, destacando-se pelo seu perfil estratega e empreendedor. Além disto, devem também ser capazes de percecionar as reais motivações das equipas e estar abertos a uma constante aprendizagem. As novas tendências de mercado desafiam ao desenvolvimento do índice de inteligência emocional e da curva de aprendizagem“.
“Temos assistido com alguma frequência a debates acerca dos novos perfis e tendências de recrutamento no setor do retalho. Certamente isto reflete-se no mercado de oportunidades, sendo cada vez mais comum a busca por perfis técnicos de comércio online e, numa vertente mais operacional, de perfis de venda consultiva com competências ao nível da gestão de negócio“, explica Luís Mouta Dias, senior consultant da Michael Page. Acrescentando que “a competitividade do mercado assim o exige e a própria entrada de novos players no mercado tem tornado a busca por perfis de gestão e impacto no negócio muito ativa“.
O entrevista explica ainda que “as empresas de retalho procuram cada vez mais perfis com capacidade de gestão e adaptabilidade, mesmo para cargos operacionais que não exigem formação específica. Para funções mais especializadas e de cariz tecnológico, assistimos a um aumento da procura de perfis no E-commerce, com as funções de Business Analyst e Controler a assumirem-se como ferramenta de suporte para o crescimento do negócio“.
Mundo digital
Aliás “o mundo digital, nomeadamente ao nível da experiência de compra, cresce em proporção de ano para ano, criando um mercado próprio que absorve perfis de suporte ao comércio online. Apesar de ainda não ser evidente a preponderância das ferramentas de e-commerce no recrutamento de perfis de retalho, as previsões do setor para os próximos anos apontam para um crescimento do comércio online na ordem dos 40%. Nesse sentido, a formação contínua nesta área, que apetreche o perfil de ferramentas técnicas de comércio online, é absolutamente obrigatória para os profissionais que pretendam enquadrar-se na nova era digital do setor“.
Para o porta-voz, “questões como a autonomia, inovação, flexibilidade, meritocracia, excelência de serviço e formação contínua são aspetos centrais de uma marca empregadora de sucesso, aos quais o setor do retalho pode (e deve) chegar“.
Também Susana Ferreira alerta para a questão da retenção do talento: “Um dos maiores desafios dos departamentos de RH passa pela retenção de talento e pelo equilibrio entre o humanismo laboral e a aproximação à era digital“.
De acordo com a Team Leader da Hays, os profissionais no ativo demonstram cada vez menos motivação para uma mudança de emprego, o que faz com que as condições salariais disparem a exigencia dos empregadores relativamente aos perfis é elevada e nem sempre as condiçoes oferecidas estão alinhadas com as expetactivas dos profissionais“.
Para Mara Martinho existem dois grandes desafios para os departamentos de RH dos retalhistas: atracão e retenção de talento. “Em constante concorrência com o próprio sector e com sectores díspares, a lei do retorno é bastante aplicável no Retalho, sendo que quando melhores condições, quer laborais quer salariais se oferecer a um colaborador, menos expectável é que este não retorne com dedicação e compromisso. Todavia, a rotatividade é algo que tão-pouco tem diminuído numa realidade como esta”.
Num mercado cada vez mais global e competitivo, os profissionais devem apresemtar um perfil versáril, de fácil adaptação e contacto com diferentes realidades. „os profissionais deverão apostar na valorização de experiencias internacionais, projetos de mudança e implementação que tanto se têm verificado no mercado“; refere Ana Almeida, da Randstad Portugal.
Perante a evolução tecnologica que todos assistimos, Susana Ferreira acredita que „terá de haver um reajuste organizacional face às novas tendencias de mercado.“
Já a consultora da Michael Page, alerta que hoje, existe uma clara preocupação com a profissionalização das funções por parte de quase todas as insígnias de Retalho. Por isso, a formação académica passa a ser quase imperativa para o ingresso neste setor. “Depois, novamente pela aposta no e-commerce, irá existir uma maior necessidade de deter uma equipa eficiente de ‘back-office’/suporte. Face aos operacionais, prevê-se uma aposta no digital, pelo que o seu domínio tornar-se-á obrigatório”, explica.