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Opinião

Compra do Brio pela Sonae é uma boa notícia para a produção biológica

Rui Rosa Dias professor do IPAM
A produção biológica pode ter um novo impulso com a compra da cadeia de supermercados biológicos Brio pela Sonae. Uma boa notícia para o setor da produção da agricultura biológica, assim como para a produção agrícola nacional, num momento ainda deficitário para a procura interna. Pressionada pelo consumo a produção nacional tenderá a aumentar. Por outro lado, por ser um cluster cujos operadores têm bem presente a vertente “justo” da cadeia de valor, a remuneração dos operadores, principalmente dos produtores, será um tema que levará, estou certo, a ajustamentos negociais, no fundo, a outras práticas empresariais com benefícios e melhorias na cadeia agroalimentar com benefícios para todas as partes.

A cadeia de supermercados Brio apresenta-se com uma operação reconhecida e consolidada, afirma-se como uma marca líder no mercado da distribuição biológica e é sem dúvida a maior cadeia nacional ao nível da oferta de produção, posicionada na oferta “biológica”.

A sua aquisição surge após a compra da Sonae de 51% da Go Natural e estimulará o crescimento do grupo no segmento da alimentação saudável. Sem dúvida que é uma garantia do dinamismo do setor, assim como a clara justificação da atratividade deste mercado emergente.

Portugal, para se aproximar dos países da UE cujos consumos per capita de produtos biológicos são mais elevados (Suíça: 210€/pessoa, Dinamarca: 163€, Luxemburgo: 157€), tem ainda tem um longo caminho a percorrer dado que, por terras lusas este indicador fica pelos 4 €. Será expectável que a Sonae, enquanto especialista de distribuição, ofereça garantias ao nível do plano de expansão para todo o território dos supermercados Brio, mantendo a estratégia de expansão, essencialmente a norte do país.

Uma aquisição empresarial, uma vez que a designada “compra de canal” constitui uma das opções estratégicas de conquista de quota de mercado, nomeadamente, em segmentos cuja atratividade tem sido crescente e compensadora para os investidores. A alimentação com origem no modo de produção biológico e outras origens, tem conquistado relevo e espaço no linear, refletindo as preferências do consumo.

Neste contexto, entendo que a expansão do conceito Brio apresenta-se como uma boa opção, alicerçada num conceito forte e pioneiro. Embora a implementação da cadeia Brio tenha passado por altos e baixos, muito condicionada pelo efeito crise que Portugal tem atravessado, avizinham-se melhores perspetivas, pois o “Mood português”, dá sinais de retoma, motivado por um clima de confiança fora do vulgar.

Esta aquisição e entrada do Grupo Sonae MC no mercado e distribuição dos produtos biológicos, é uma tendência que se tem registado em outros operadores, como é o exemplo do El Corte Inglês, que iniciou há cerca de dois anos uma abordagem focada e estrategicamente bem alinhada com o conceito “Bio”, assim como, algum retalho igualmente presente em Portugal – Lidl, entre outros, ampliando a oferta destes produtos, com preços muito atrativos para o consumidor.

A aposta surge em resposta às tendências que o consumo tem vindo a demonstrar associado à procura de mais bem-estar, mais equilíbrio através da alimentação e, em suma, de mais saúde. Exige-se mais responsabilidade na visão holística da cadeia de valor agroalimentar, assim como mais conveniência, mais “conectividade” e mais valores.

Nos últimos anos a agricultura biológica registou um crescimento em Portugal, mas o país ainda importa cerca de 80% do que consome. Os preços, por vezes especulativos, condicionam o consumo que em Portugal é muito reduzido face à média europeia. Acredito que, com uma estratégia séria, a agricultura biológica, mesmo em pequenos volumes, terá espaço para crescer no nosso país. Já lá vai o tempo em que os grandes operadores da agroindústria, como é exemplo do sector dos lácteos, apenas utilizaram este segmento para reposicionar e fazer cosmética de portefólios e imagem, fazendo desacreditar o consumidor na evolução emergente deste cluster. Na verdade, em pouco menos de uma década, o mercado reagiu e veio dar razão a um consumo efetivamente “não visível” aos olhos do “marketing de curto prazo”, no fundo, ao “mau marketing” agroalimentar.

O consumo de produtos biológicos e saudáveis tem registado um crescimento assinalável e espelha quer uma certa descrença nos produtos “convencionais” e seus modos de produção, quer uma clara importância que o consumidor começa a dar à alimentação, à natureza e biodiversidade e aos aspetos sociais, associados à produção, às gentes, às regiões ao local. Cada vez mais o consumidor manifesta interesse em saber quem produziu, onde foi produzido e que matérias-primas teve por base a produção e transformação.

Em termos mundiais merece ressalva a referência do crescimento assinalável do volume de negócios da agricultura biológica de 15,2 mil milhões em 1999 para os atuais 72,1 mil milhões em 2014. Na Europa, o país que apresenta o consumo per capita mais elevado é a Suíça com 210 €.

Os números são animadores e refletem, sem dúvidas, que o consumo dos produtos biológicos deverá duplicar em dez anos. Face a tudo isto deixa claro o acerto de quem, como a Sonae, entre outros, está a fazer uma aposta estratégica, e não meramente tática, no sector.

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