Os consumidores de hoje querem incorporar as suas crenças e causas nas suas compras. Quando se trata de alimentos e bebidas, eles estão cada vez mais preocupados não apenas com o que está no produto, mas também com a sua origem, produção e o impacto que tem no planeta e na sociedade como um todo. Como resultado, a procura por maior sustentabilidade e transparência está progressivamente a ir mais além do foco tradicional, concentrado no bem-estar ambiental e animal, para incluir também o elemento humano.
A pesquisa da Daymon mostrou que mais de 1 em cada 4 consumidores da geração Millennial e Geração X preferem comprar a empresas com boas práticas laborais. E, à medida que as revelações sobre trabalho escravo, condições de trabalho precárias e práticas salariais desleais ganharam destaque nas notícias nos últimos anos, os consumidores exigem cada vez mais que os retalhistas e as marcas deem maior ênfase à responsabilidade social e económica em toda a sua cadeia de logística.
Alguns retalhista e marcas já estão a liderar o caminho ao repensar as suas abordagens para melhorar a situação dos agricultores, produtores e trabalhadores. Na verdade, esta é a essência de uma marca Francesa – C’est qui le patron? (“Quem é o chefe?”) – fundada em 2016 em resposta a greves agrícolas motivadas por práticas injustas no preço do leite. Tendo como base os custos de produção, fornecidos pelos produtores de leite, C’est qui le patron? pediu aos consumidores que avaliassem os atributos que desejavam no seu leite e o que estariam dispostos a pagar por isso. No final, os consumidores optaram por pagar aos agricultores cerca de 25% mais do que o valor corrente para garantir que o leite seria eticamente produzido. O conceito tem sido tão popular – com mais de 65 milhões de litros de leite vendidos até hoje – que a marca expandiu-se para incluir manteiga, ovos, sumo de maçã, morangos e outros, todos com preços que garantem salários justos aos produtores.
No Reino Unido, o retalhista de produtos alimentares Sainsbury’s está a testar um programa para ajudar produtores de chá em pequena escala no Ruanda, Quénia e Malawi a enfrentar desafios como as alterações climáticas e a falta de acesso a financiamento e mecanismos de previsão de vendas. A Sainsbury’s fornece apoio direcionado aos agricultores e garante um preço mínimo para as suas colheitas, para além disso, atribui um prémio social da Sainsbury’s Fairly Traded para que eles possam reinvestir nos seus negócios e comunidades. Em troca, o retalhista diz que recebe uma maior transparência na sua cadeia de logística e é capaz de garantir um produto de maior qualidade para seus consumidores, que vende sob a marca Fairly Traded Red Label.
Empresas líderes globais de bens de consumo, como a Unilever e a Kellogg, também começaram a abordar as desigualdades nas suas cadeias de fornecimento, nomeadamente a exploração de trabalhadores migrantes, situação comum no setor agrícola devido à natureza sazonal e variável do trabalho. A Unilever, por exemplo, está a trabalhar com os seus fornecedores de óleo de palma e grupos de trabalhadores locais para promover os direitos humanos e ajudar a acabar com o trabalho forçado na indústria de óleo de palma. Da mesma forma, a Kellogg começou a auditar e a fornecer aos seus fornecedores treino sobre recrutamento ético e direitos dos trabalhadores migrantes.
Em conclusão, esta priorização da igualdade e do bem-estar humano é um dos principais pilares do sucesso na nova era de clean label. Já não é suficiente fazer apenas alegações de saúde específicas, usar ingredientes reconhecíveis ou fazer promessas “livres de”. Os consumidores esperam mais – e estão muitas vezes dispostos a pagar mais – por produtos que oferecem o pacote completo: ingredientes seguros e simples, transparência em toda a cadeia de fornecedores e responsabilidade ambiental, social e económica.
por Rita Manso, Senior Director of International Retail Strategy & Marketing, Daymon