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Clara Moura Guedes: «Há uma enorme apetência por queijos de cabra»

Clara Moura Guedes: «Há uma enorme apetência por queijos de cabra»

Há esperada estagnação do consumo interno, respondem com a dinamização das vendas para o exterior. Há maturidade do mercado dos queijos reagem com inovação na comunicação e nos produtos que desenvolvem. Tudo para e pelo consumidor.

Lançaram uma linha gourmet e apostaram na conveniência com produtos pré-preparados para saladas. O novo produto, Palhais com Teor Reduzido de Sal, surge como?

O desenvolvimento de produtos na Saloio é uma área estratégica, como tal existe um processo formal e organizado de desenvolvimento que passa por uma recolha sistemática de inputs de tendências de consumo, clientes, consumidores, equipa de vendas e outros colaboradores, fornecedores, etc. à qual se segue a validação feita pelo departamento de Marketing e a finalização do conceito. Inicia-se então o estudo de viabilidade tecnológica e industrial e a análise financeira. Afectos os recursos passa-se à concretização do projecto e sua apresentação ao mercado.

 

Neste caso concreto do Palhais com Teor Reduzido de Sal foi um desenvolvimento complexo do ponto de vista tecnológico uma vez que se pretendia manter um sabor intenso, tão característico da gama Palhais e uma textura firme ao corte, mas em simultâneo reduzir para cerca de 50% o aporte de sal. O resultado foi muito animador e pensamos que vai ser um produto com um enorme sucesso.

Pretende-se, dentro da gama Palhais, proporcionar alternativas diferentes, nomeadamente para aqueles consumidores que embora apreciando os sabores intensos têm alguma restrição associada ao consumo de sal.

 

Dirige-se a quem?

Dirige-se a apreciadores de queijos de cabra, intensos e diferenciados, sensíveis aos aspectos nutricionais, nomeadamente, relativos à ingestão de sal.

 

Este é um produto que se destina apenas ao mercado nacional ou estão a pensar exportá-lo?

Palhais Teor de Sal Reduzido vai, seguramente, fazer parte da gama de produtos a exportar até porque na generalidade dos mercados há uma enorme apetência por queijos de cabra. Nalguns dos principais mercados para onde exportamos a questão do teor de sal é pertinente e este desenvolvimento, extremamente inovador no domínio dos queijos, será uma resposta muito adequada a uma necessidade efectiva.

 

Quais as principais tendências de consumo que antecipa neste mercado?

Consideramos que a conveniência continua a ser uma tendência extremamente relevante, assim como a funcionalidade ligada com nutrição e saúde. Na conjuntura actual e tendo em conta o acréscimo significativo do consumo em casa, toma relevo a “indulgence”, o prazer, a sofisticação que, de certa forma, compensam o “sacrifício” associado a uma redução do consumo fora de casa.

O mercado dos queijos é um mercado já maduro ou acha que ainda tem muito por onde surpreender?

O mercado do queijo em Portugal, embora de dimensão importante (dos maiores mercados alimentares), é bastante tradicional e incorpora um reduzido nível de inovação e também um nível de investimento em comunicação bastante baixo quando comparado com outros similares. Julgo que embora maduro, se pode reinventar alterando o ciclo se houver uma postura mais dinâmica e agressiva dos operadores. O consumo per capita e sobretudo as formas de consumo têm ainda um grande potencial de crescimento e alteração.

Continuam a produzir MDD?

A produção de marca própria na Saloio é extremamente residual, tendo representado cerca de 1% das vendas. Encaramos essas oportunidades em linhas com capacidade disponível, de forma a racionalizar recursos. No entanto, as marcas são um elemento fundamental na estratégia da Saloio e uma garantia de qualidade, inovação e fidelização do consumidor.

E com o desenvolvimento das MDD e a crise que leva os consumidores a escolherem por vezes apenas baseados no factor preço, não têm sentido que o negócio das vossas marcas fortes está a ter decréscimos de venda?

Tem havido, efectivamente um crescimento importante das marcas de distribuição, também neste sector, no entanto, a quota de mercado da Saloio tem-se mantido estável não sendo, aparentemente, afectada por este fenómeno. A explicação que encontramos para isso é a importância da inovação relevante para o consumidor que continua a fazer opções no âmbito das marcas, a diferenciação, a homogeneidade na qualidade, aspecto muitíssimo importante no sector dos queijos tradicionais e uma permanente preocupação de manter a relação de valor a níveis adequados, ou seja, um nível de preços que o consumidor considere justificados.

Como correu o ano de 2010 e quais as expectativas que têm em relação a 2011?

O ano de 2010 correu bem do ponto de vista de vendas e quota de mercado, ou seja, os consumidores continuaram a validar as opções estratégicas da Saloio. A exportação continuou também a ser um vector de desenvolvimento importante com crescimentos significativos de vendas em Espanha, França, Alemanha e Angola entre outros.

Assistimos, no entanto, a uma crescente concentração da distribuição e a uma agressividade cada vez maior, o que é cada vez mais complicado de gerir em empresas de pequena dimensão, como é o caso da Saloio, e de cariz nacional, ou seja, sem capacidade negocial mais global. Consideramos esta questão preocupante pelos impactos negativos no tecido industrial que resta em Portugal e que garante um número não negligenciável de empregos.

Quais os principais problemas com que a Saloio se depara no seu dia-a-dia?

As questões principais prendem-se com o referido no ponto anterior: o acesso dos produtos ao mercado, nomeadamente da inovação e a capacidade das PME, com margens reduzidas, em sectores muito comprimidos e com pouca hipótese de reacção, de lidarem com um peso cada vez maior de cada um dos clientes e um nível de exigência incomportável para estruturas desta dimensão.

Para além deste aspecto pesa também, do ponto de vista da competitividade, o excesso de intervenção do Estado, a regulamentação incoerente e a pouca eficácia deste que leva a processos burocráticos complicados e inúteis, mas geradores de custo.

Têm uma presença activa nas redes sociais. Como está a ser a experiência e quais as mais-valias que têm encontrado para a empresa?

A Saloio tem desenvolvido um trabalho exaustivo nos novos media, desde há um ano a esta parte. Estamos extremamente satisfeitos com os resultados pois consideramos que neste novo paradigma no qual a comunicação passou a ser interactiva e a quota de atenção é muito mais difícil de obter, o caminho da construção de relações fortes e individualizadas e da criação de verdadeiras “love brands” no campo afectivo dos consumidores são formas extremamente eficazes de garantir lealdade e preferência no ponto de venda.

A estratégia da Saloio, de desenvolvimento de produtos diferenciados e inovadores adapta-se de forma muito interessante à comunicação nestas novas plataformas e à utilização intensa da prescrição, do “Word of mouth”, dos fenómenos virais.

Quais as linhas condutoras da Saloio para 2011?

A Saloio vai continuar a desenvolver o seu negócio nos memos moldes, ou seja, com uma ênfase grande na inovação e na apresentação de propostas diferenciadas. Continuaremos também um trabalho incessante de racionalização de forma a ser possível manter níveis de preços adequados. A qualidade, a sustentabilidade e confiança dos stakeholders continuarão, também, a ser um vector relevante nomeadamente com a obtenção da certificação IFS entre outras iniciativas.

Continuaremos a dinamizar as vendas para o exterior como forma de compensar a estagnação prevista no consumo interno. Por último, mas não menos importante, o reforço das marcas, a utilização dos meios mais adequados e a proximidade com o consumidor continuarão a ser uma prioridade.

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